Mês do Horror 2017 | Resenha // Dias Perfeitos, de Raphael Montes

Durante esses dias, ele havia sido bastante razoável com ela. Quem nunca se apaixonou sem ser correspondido? Quem não gostaria de mostrar que poderia ser diferente, que a história de amor poderia dar certo? Ele apenas fazia o que todos já tinham desejado fazer. Havia criado para si a chance de estar próximo de Clarice, de deixar que ela o conhecesse melhor antes do “não” definitivo. Era ousado e corajoso. Agora, colhia os frutos da empreitada. (Pág. 101)

 

Oies Bookaholics!

 

 

Mais um autor super recomendado que eu finalmente li! Me refiro ao nosso mestre do horror nacional: Raphael Montes 🙂

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  • Título original: Dias perfeitos
  • Autor: Raphael Montes
  • Editora: Companhia das Letras
  • País: Brasil
  • Lançamento: 2014
  • Gênero: Terror
  • 280 Páginas
  • Classificação: 4,5/5

Sinopse: Téo é um solitário estudante de medicina que divide seu tempo entre cuidar da mãe paraplégica e examinar cadáveres nas aulas de anatomia. Durante uma festa, ele conhece Clarice, uma jovem de espírito livre que sonha tornar-se roteirista de cinema. Ela está escrevendo um road movie sobre três amigas que viajam em busca de novas experiências. Obcecado por Clarice, Téo quer dissecar a rebeldia daquela menina. Começa, então, uma aproximação doentia que o leva a tomar uma atitude extrema. Passando por cenários oníricos, que incluem um chalé em Teresópolis e uma praia deserta em Ilha Grande, o casal estabelece uma rotina insólita, repleta de tortura psicológica e sordidez. O efeito é perturbador. Téo fala com calma, planeja os atos com frieza e justifica suas atitudes com uma lógica impecável. A capacidade do autor de explorar uma psique doentia é impressionante – e o mergulho psicológico não impede que o livro siga um ritmo eletrizante, repleto de surpresas, digno dos melhores thrillers da atualidade. Dias perfeitos é uma história de amor, sequestro e obsessão. Capaz de manter os personagens em tensão permanente e pródigo em diálogos afiados, Raphael Montes reafirma sua vocação para o suspense e se consolida como um grande talento da nova literatura nacional.

 

Eu estava muito apreensiva para esta leitura, porque pelas resenhas que já tinha visto saberia que a narrativa me traria muitos desconfortos, mas foi pior, me trouxe vários momentos de repulsa. Não por falta de qualidade da narrativa, muito pelo contrário, pelas descrições minuciosas de violência e tortura, um prato cheio para os fãs do gênero. Mesmo porque Raphael Montes emprega um ritmo de alucinante de leitura, a partir de capítulos curtos e diretos com direito à técnica de os finalizar com pequenos cliffhangers, e  linguagem sem uso de rebuscamentos ou dificuldades de compreensão de ao leitor. Eu finalizei a leitura de forma bem rápida, lendo somente nos transportes públicos!

Além disso, a trama extremamente perturbadora consegue nos manter fixos até descobrirmos o fim dos personagens protagonistas Téo e Clarice. Quando me refiro a uma trama extremamente perturbadora, digo que por conta do meu pavor e repulsas às histórias, de ficção ou não, com os atos mais cruéis de violência física e mental a outro ser humano. // Recomendo também: Resenha | O sorriso da hiena, por Gustavo Ávila / 3 motivos para ler.

Mas, não só cenas desse tipo de deixaram de certa forma mal, mas também a própria constituição da personalidade doentia de Téo, revelando o padrão do modelo patriarcal de perfil da mulher, que se reflete basicamente na idealização da mulher bela, recatada e do lar:

Enquanto ela comia, ele trocava a roupa de cama e as toalhas. Clarice tinha ficado encarregada da limpeza do quarto. Téo não queria iludi-la com luxos de princesa, pois sabia que as questões domésticas eram mais apropriadas às mulheres (Pag. 88)

Ou então:

Clarice bebia m excesso para um mulher. (Pág. 31)

A idealização da mulher perfeita para Téo:

Téo se despediu da mãe com a desculpa de que pretendia estudar. Comprou cartão telefônico numa banca e encontrou um orelhão em uma praça de pouco movimento. A parte interna do orelhão estava repleta de anúncios de prostitutas. Tarjas pretas vedando os olhos e nenhuma vedando o sexo. Bocas de veludo e vaginas quentes. Aquelas eram mulheres sujas. Clarice era diferente: insinuante, porém doce. (Pág. 24)

 

Temos em mente que o personagem é um psicopata, mas em tempos em que ainda se discute a culpabilização da vítima nos casos de abuso sexual contra mulheres, a personalidade forte, independente e livre de Clarice, sugerem que ela quem provocou, numa forma de justificar o comportamento do agressor. Se assemelha ao discurso de que se a vítima não estivesse de roupa curta ou decotada, se não tivesse bebido e/ou sozinha na rua à noite, o crime poderia ter sido evitado.

Agora, falava a verdade. Não havia por que mentir para Patrícia. Nem para si mesmo.
Queria estar na última fileira do cinema com Clarice. Ela o havia beijado naquele churrasco. Por que parar? Do beijo, furtado e furtivo, ele havia se tornado refém. Não era o invasor, mas o invadido; não queria só desvendar, mas ser desvendado. Ele amava Clarice, admitiu. Precisava ser amado. (Pág. 30)

O livro narrado em 3ª pessoa, com um narrador onisciente, mas seletivo, ou seja, ele sabe tudo e a partir da perspectiva de Téo, nos fazendo mergulhar nos pensamentos mais sombrios e até então justificáveis para cada decisão em relação a Clarice. Mas é necessário tomar muito cuidado, se assumirmos que os atos são justificáveis poderemos considerar que o personagem tinha razão, tornando a leitura de creta forma perigosa. O leitor precisa manter uma distância crítica, humana e ética do que está lendo, é sempre bom avisar, não é mesmo?

Acompanhou sua respiração, sintonizando-a à dele. Sentou na beirada da cama, observando-a de perto, mas ainda a uma distância respeitosa. Não queria parecer doente ou maníaco. Com o tempo, ele ia provar a Clarice que ela estava errada. Jamais seria capaz de cometer abusos: faltava-lhe o instinto animal que os homens ganham ao nascer. Essa era apenas uma de suas qualidades. Se houvesse mais gente como ele, o mundo seria melhor. (Pág. 46)

Um detalhe que merece destaque nessa resenha é a referência à Clarice Lispector, devido ao nome da personagem Clarice. E o autor consegue transformar até mesmo um livro de contos em um objeto da sua história de horror ao longo das páginas. E ainda mais, não se trata apenas de um caso de obsessão, mas também de relacionamento familiares, preconceitos e o poder a partir do dinheiro.

Com cenas de nos tirar o fôlego e momentos de muita tensão, o final é aberto e fica a critério de cada leitor a interpretação que ele desejar.  Dessa forma, considero Dias perfeitos uma história que não é para todo mundo, me tirou a paz em diversos momentos e acredito que vários aspectos podem servir de gatilho para quem já sofreu com as situações descritas pelo autor, ou para aqueles que não gostem, é violento, é brutal e é extremamente pesado.

Por último, a título de curiosidade, preciso falar que há uma polêmica de que o livro de Raphael Montes seria plágio do livro O colecionador, de John Fowles, como não li a segunda obra, mas lendo a sinopse vários pontos são bem semelhantes em Dias Perfeitos. Mas ao mesmo tempo em que há uma teoria de que hoje nada mais se cria, poderíamos levar em conta de que o autor brasileiro usou como referência a obra de John Fowles? Segue abaixo um pequeno vídeo fala sobre a ideia de sua história.

 

Me digam nos comentários se já leram este livro ou outros livros do Raphael Montes, vou adorar saber! ;

 

Até o próximo post!

EST. 2015

 

 

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9 Comentários

  1. Cacá, adorei! Realmente parece um livro que vou gostar, mas esperarei um pouco para ler pois acabei de terminar A Garota Corvo, que contém temas muito pesados também, então preciso de um descanso.. rsrs… Ele está no meu celular esperando…
    bjs

    Curtido por 1 pessoa

    1. Oies Reh! É muito pesado, acho que uma pausa vai ser bom hahaha. Quero saber a sua opinião depois 😉 Bjos

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  2. Estou a muito tempo querendo ler essa belezinha. Não me pergunte o porquê de eu ainda não ter lido, pois não saberei responder. 😏 Faz um bom tempo que não leio nada perturbador. Sua resenha me deu ânimo e um leve empurrão para ler Dias Perfeitos.
    Xoxo, Triz ❤️

    Curtido por 1 pessoa

    1. Oies Triz! Sei bem como é, eu comprei esse livro há quase um ano e só fui pegar pra ler agora, rs … Fico feliz por vc ter gostado, quando ler, vou querer saber a sua opinião, hein?! Bjos ❤

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  3. Menina preciso ler esse livro! Apesar que as cenas de violência me traria muita repulsa tbm,mas mesmo assim achei muito interessante a história,gosto muito de livros que tem psicopatas na trama,amei a resenha 😘

    Curtido por 1 pessoa

    1. Oies! Eu fiquei extremamente chocada com a violência, mas é uma leitura que recomendo muito! Tem tudo para vc gostar 😉 Depois que ler me diga o que achou, viu?! 😉 Bjos

      Curtido por 1 pessoa

      1. Pode deixar 😘❤

        Curtido por 1 pessoa

  4. […] do horror, finalmente li uma obra do mestre do horror brasileiro Raphael Montes 🙂 Confiram: Mês do Horror 2017 | Resenha // Dias Perfeitos, por Raphael Montes. E por falar em Raphael Montes, eu participei do sorteio que ele fez no Halloween e fui a vencedora […]

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  5. […] que a história de Misery me lembrou muito de Dias Perfeitos, de Raphael Montes, nosso autor nacional. E pensando para analisar as duas obras vi logo nas primeiras páginas de […]

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