Oies Bookaholics!
Esse é o número 17 da Coleção Grandes Nomes da Literatura, publicada em 2016, pelo jornal Folha de São Paulo. Estou feliz por conseguir ler mais um volume desta edição, que estava um pouco abandona na minha estante.
Christmas Holiday – Coleções Folha – 2016 – Clássicos – 256 Páginas – 3/5
Sinopse: Charley Mason, filho de uma família inglesa abastada, tem vinte e poucos anos e está viajando sozinho a Paris pela primeira vez, dias antes do Natal. As expectativas e as fantasias de Charley sobre a viagem se transformam quando, pela mão de seu melhor amigo – o jornalista Simon Fenimore, correspondente na capital francesa –, o jovem inglês se vê impelido a sair de sua bolha familiar e entrar em contato com um mundo de prostituição e crime. Romance menos conhecido do inglês W. Somerset Maugham (1874-1965), autor de Servidão humana, Férias de Natal foi publicado em 1939, às vésperas da Segunda Guerra. Maugham, cujo estilo passa ao largo do vanguardismo modernista, faz com que esses tempos turbulentos se reflitam na fala – muitas vezes elaborada, não coloquial – e na vida de seus personagens: a Revolução Russa (que, na época, tinha mais ou menos a mesma idade de Charley) e suas consequências na trágica figura da prostituta Lídia, e as ideias propagadas pelo fascismo e pelo stalinismo nos discursos violentos de Simon. É um clássico relato da perda da inocência.
Sobre o autor
Eu nunca tinha ouvido falar nesse autor, e acho interessante compartilhar algumas informações sobre o mesmo.
William Somerset Maugham nasceu em Paris, em 1874. Ficou órfão aos dez anos, sendo enviado à Inglaterra para viver com seu tio, o vigário de Whitestable. Em 1897, formou-se médico, mas abandonou a profissão após o sucesso dos seus primeiros romances e peças de teatro. “Servidão Humana”, de 1915, é considerada a sua obra-prima. É autor de extensa obra, que inclui contos, romances, peças teatrais, ensaios e narrativas de viagem. Morreu aos 91 anos, em dezembro de 1965. (Fonte: Globo Livros)
Por que este livro não funcionou para mim
Pela sinopse eu fiquei bem interessada na história, mas na realidade eu não gostei deste livro. Vários motivos contribuíram para que eu não gostasse da leitura, mas o principal é que achei a obra extremamente maçante, não significa que considerei um livro mal escrito ou ruim em termos técnicos, mas foi muito difícil finalizá-lo. Os capítulos eram muito longos, alguns com mais de 40 páginas, contribuindo ainda mais para uma leitura mais densa e não fluída. Charley, o protagonista da história não possui nada de interessante que faça com que você tenha empatia, parece que o mesmo desempenha um papel mais secundário na sua própria história. A narrativa em 3ª pessoa não me cativou, já que por se tratar de uma experiência marcante na vida de um jovem, esperava um relato mais pessoal e particularizado, com o personagem expressando seus próprios sentimentos durante as férias que mudaram a sua vida. Além disso, a maior parte do livro se passa com personagens secundários conversando com o protagonista em um quarto fechado, sem dinâmica alguma, e ainda, pouco me importava com o que eles estavam falando, com os fatos do seu passado ou suas convicções. Poderia mencionar também as várias passagens machistas de como a mulher é retratada, e de como isso me incomoda muito pelo posicionamento e visão que tenho hoje.
Diferentes perspectivas sobre a arte
Mas nem tudo foi ruim, rs. Um dos pontos que me chamaram a atenção positivamente foram as várias perspectivas sobre a arte, e como influenciaram a vida de Charley, mostrando também o quanto ele era influenciável pela opinião de outros. Charley cresceu em meio à arte clássica, seus pais, que representam a segurança e os princípios desde a formação, sempre incentivaram e faziam com que os filhos tivessem o maior contato, mas não desejavam que o filho seguisse sua vida profissional por este caminho, como era a intenção do rapaz:
Tinham amor à arte e diziam muitas vezes que a arte era para eles o que havia de mais importante. Mesmo Leslie, que não era avesso a filosofar de quando em quando, sentia-se inclinado a ver nela a única coisa capaz de resgatar a insignificância da existência humana, e nutria o maior respeito por aqueles que a cultivavam. Mas jamais tinha encarado a eventualidade de que um membro de sua família, quanto mais o próprio filho, seguisse uma carreira incerta, até certo ponto irregular, e com tão poucas possibilidades de lucro. (Págs. 15/16)
Tanto que o pai já arma uma carreira mais burocrática e estável para o filho, que aceita tudo que lhe é imposto, não se expressa e não luta pelo que acredita. Simon, o amigo de infância, que se transforma ao morar em Paris, coloca em dúvida os tais princípios que os pais pregavam:
Ainda cultiva as pretensões artísticas de seus pais? Precisa emancipar-se, Charley. A arte! Um divertimento interessante para pais ricos desocupados. O nosso mundo, o mundo em que vivemos, não tem tempo para essas tolices (…) Eu sei o que pensava: pensava que a arte dava beleza e sentimento à existência. Pensava que ela fosse um consolo para os cansados e os aflitos, e inspiração para uma vida mais completa. Conversa fiada! Talvez venhamos a precisar novamente da arte no futuro. Mas não há de ser sua arte, mas a arte do povo (…) O povo precisa de ópio, e é possível que a arte seja a melhor forma de satisfazer essa necessidade. Mas ele ainda não está preparado para recebê-la. Por enquanto, precisa é de uma outra forma de anestésico. (Pág. 31)
E é justamente problemática a outra forma de anestésico que Simon acredita ser necessária para a população, ideias ligadas ao fascismo que abordarei mais adiante. E uma terceira perspectiva sobre a arte vem de Lídia, uma garota de programa que Simon apresenta a Charley.Rrussa, fugiu do país por conta da Revolução, passou por diversas dificuldades financeiras e após o marido ser preso por suspeita de homicídio passa a se prostituir. Para ela, a arte é muito mais que técnica, não que ela tenha muito conhecimento sobre o assunto, é sentimento e desperta emoções, uma forma nova para Charley enxergar as coisas:
Estava pensando. Você compreende, sempre me interessei pela arte. Meus pais são muito entusiastas, alguns poderiam até achá-los um pouco intelectuais, e sempre se desvelaram para que minha irmã e eu aprendêssemos a apreciar a arte. E creio que os esforços que fiz e das facilidades que tive, não pareço entender tanto de arte quanto você (…) Mas parece que a sente com muita intensidade, e supondo que a arte seja, com efeito, questão de sentimento. Não que eu não goste de pintura. Ela me proporciona sensações magníficas. (Pág. 195)
Fascismo
O fascismo aqui é representado por Simon, em conceitos e ideias autoritários. As suas colocações em relação à arte, destacados anteriormente, são os primeiros indícios das ideias fascistas, que menosprezava a arte e ainda manipulava as massas pelas palavras, utilizando principalmente ideias mais filosóficas da maneira que mais convém para seus objetivos, não por acaso, Simon cita diversos filósofos para embasar seu discurso.
Pela história universal afora sempre houve exploradores e explorados. Sempre haverá. E isso é justo, pois a grande massa dos homens é destinada pela natureza ao papel de escravo. São incapazes de se dirigirem, e para seu próprio bem necessitam de senhores. (Pág. 228)
E quando Simon começa a dizer o que faria se estivesse no poder, eu revirava os olhos de tanto tédio e inconformação:
Eu daria ao povo a ilusão de liberdade, concedendo-lhe a maior independência pessoal compatível com a segurança do Estado. Eu socializaria a indústria tão amplamente quanto as características peculiares do animal humano o permitem, dando-lhe assim a ilusão de igualdade. E, como todos eles seriam irmãos debaixo do mesmo jugo, teriam a ilusão da fraternidade. Lembre-se de que um ditador pode fazer em benefício do povo uma porção de coisas que são vedadas à democracia porque esta tem de levar em conta os interesses constituídos, os ciúmes e as ambições pessoais. Ele tem assim uma oportunidade excepcional para suavizar a sorte das massas. (Pág. 229)
E ainda o terror, outro fundamento essencial dos regimes totalitários, levando em conta a publicação do livro às vésperas da Segunda Guerra Mundial em que estes princípios já vinham sendo difundidos na Europa:
A técnica da revolução tem sido aperfeiçoada. Uma vez dadas as condições favoráveis, é fácil a um grupo de homens resolutos ocupar o poder. A Revolução Russa, de maneira mais clara possível, e as revoluções italiana e alemã em grau menor demonstraram que só há um meio de consegui-lo: o terror. O operário que se converte em chefe de Estado fica exposto a tentações a que só um caráter forte pode resistir. (Pág. 231)
Lendo um artigo da Marcia Tiburi sobre o fascismo e o neofascismo, e, relacionando com essas colocações no livro de W. Somerset Maugham, fiquei refletindo sobre a intervenção federal por um interventor militar no Rio de Janeiro nesses últimos dias. Para muitos pode ser considerada uma medida de segurança e tentativa de controle, mas já são notados os casos de abuso de poder e violência à população mais marginalizada da sociedade, com crianças sendo revistadas na escola, casos de racismo e mortes. E mais me parece que nunca será suficiente relembrar da história da nossa ditadura…
Até o próximo post!
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Olá!
Belíssima análise da obra. Do Maugham só li “Histórias dos Mares do Sul”, porque tinha em casa quando era adolescente. Uma edição de capa dura, pequenina. Um livro que gostei e que me marcou, aparentemente (porque nunca esqueci dele… rs).
Gostei da análise e da forma como fizeste uma relação com a realidade atual…
Até!
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Oies! Nossa, bom saber desse outro livro, quem sabe minha opinião sobre o estilo de escrita do autor mude, rs… Fico muito feliz por você ter gostado, obrigada de verdade! 😉 Bjos
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Sobre se vai mudar sua opinião… Nao sei… rs. Os autores tendem a manter o estilo ao longo da vida. Mas o que seria do amarelo se todos gostassem de clichês? 😂
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Pois é …
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[…] Férias de natal, por W. Somerset Maugham […]
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[…] Mais uma leitura que não me agradou muito nesse mês (e estou até pensando se elas não acabaram contribuindo para a minha bad hahaha). Essa leitura faz parte da Coleção Folha Grandes Nomes da Literatura, e foi bem difícil chegar até o fim, rs. Confiram: Resenha | Férias de natal, por W. Somerset Maugham. […]
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[…] 1. Uma viagem sentimental (Lawrence Sterne) 2. Em águas sombrias (Paula Hawkins) 3. Férias de natal (W. Somerset Maugham) 4. Fiquei com seu número (Sophie […]
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Mal iniciei o livro e desanimei.
Li a premissa do ” jovem rico que se depara com prostituição e crime” logo fiquei super empolgado. Entetanto, percebi uma literatura cansativa logo quando a viagem do Charley Mason leva um corte no início do livro. E não se trata de uma pausa. Os próximos personagens que o autor vai nos apresentando, basicamente vão esfumaceando o protagonista, introduzindo muitas informações das quais não reflete ao propósito da premissa.
Será que devo continuar?
O tempo é tão curto pra perder tempo com livro ruim
😦
Ezequiel
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Oies Ezequiel! Eu entendo a sua decepção, eu tbm achei a narrativa cansativa… Queria dizer que as coisas melhoram, mas estaria mentindo, então acho que nosso curto tempo não deve ser investido em coisas que não gostamos, mesmo pq essa leitura não é obrigatória para vc, certo?
Boa sorte e melhores leituras! 😉
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