Resenha | Lugar de fala, de Djamila Ribeiro (Coleção Feminismos Plurais)

Oies Bookaholics!

Estou um pouco atrasada, mas seguindo o meu projeto de 12 livros nacionais para 2020, hoje quero falar sobre a leitura escolhida para o mês de junho: Lugar de fala, da autora Djamila Ribeiro.

★ 5

Coleção Feminismos Plurais – Pólen Livros – 2019 – 112 Páginas

A intenção da coleção Feminismos Plurais é trazer para o grande público questões importantes referentes aos mais diversos feminismos de forma didática e acessível. Com o objetivo de desmistificar o conceito de lugar de fala, Djamila Ribeiro contextualiza o indivíduo tido como universal numa sociedade cisheteropatriarcal eurocentrada, para que seja possível identificarmos as diversas vivências específicas e, assim, diferenciar os discursos de acordo com a posição social de onde se fala.

O termo lugar de fala tem sido muito questionado e nem todo mundo entende ou acredita mais no seu uso, por isso, antes de qualquer coisa é necessário entender os porquês da importância do termo, segundo a própria Djamila Ribeiro:

1º ” O lugar social não determina uma consciência discursiva sobre esse lugar. Porém, o lugar que ocupamos socialmente nos faz ter experiências distintas e outras perspectivas (…) Com isso, pretende-se também refutar uma pretensa universalidade. Ao promover uma multiplicidade de vozes o que se quer, acima de tudo, é quebrar com o discurso autorizado e único, que se pretende universal. Busca-se aqui, sobretudo, lutar para romper com o regime de autorização discursiva.”

2º “Falar de racismo, opressão de gênero, é visto geralmente como algo chato, ‘mimimi’ ou outras formas de deslegitimação. A tomada de consciência sobre o que significa desestabilizar a norma hegemônica é vista como inapropriada ou agressiva, porque aí se está confrontando poder. “

3º “Assim, entendemos que todas as pessoas possuem lugares de fala, pois estamos falando de localização social. E, partir disso, é possível debater e refletir criticamente sobre os mais variados temas presentes na sociedade. O fundamental é que indivíduos pertencentes ao grupo social privilegiado em termos de locus social consigam enxergar as hierarquias produzidas a partir desse lugar, e como isso impacta diretamente a constituição dos lugares de grupos subalternizados. “

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💭 Por que é necessário entender sobre LUGAR DE FALA? " O lugar social não determina uma consciência discursiva sobre esse lugar. Porém, o lugar que ocupamos socialmente nos faz ter experiências distintas e outras perspectivas (…) Com isso, pretende-se também refutar uma pretensa universalidade. Ao promover uma multiplicidade de vozes o que se quer, acima de tudo, é quebrar com o discurso autorizado e único, que se pretende universal. Busca-se aqui, sobretudo, lutar para romper com o regime de autorização discursiva." . "Falar de racismo, opressão de gênero, é visto geralmente como algo chato, 'mimimi' ou outras formas de deslegitimação. A tomada de consciência sobre o que significa desestabilizar a norma hegemônica é vista como inapropriada ou agressiva, porque aí se está confrontando poder. " . "Assim, entendemos que todas as pessoas possuem lugares de fala, pois estamos falando de localização social. E, partir disso, é possível debater e refletir criticamente sobre os mais variados temas presentes na sociedade. O fundamental é que indivíduos pertencentes ao grupo social privilegiado em termos de locus social consigam enxergar as hierarquias produzidas a partir desse lugar, e como isso impacta diretamente a constituição dos lugares de grupos subalternizados. " . . . #Book #Books #Bookaholic #ABookaholicGirl #bookshelf #Instabook #instareading #lendo #bookish #instalibros #ilovereading #libros #instalivros #bookstagram #instaread #LoveBooks #AmoLivros #AmoLer #VamosLer #leiamulheres #quarentena #ficaemcasa #blackwoman #leiaautoresnegros #blackwoman #blacklivesmatter #vidasnegrasimportam #lugardefala #djamilaribeiro #racismo

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Eu sou uma admiradora do trabalho da Djamila Ribeiro enquanto mulher negra, filósofa e feminista, e acho que suas colocações sobre esses temas são extremamente válidas e pertinentes. Lugar de fala cumpriu muito bem o seu propósito enquanto parte de uma coleção voltada às massas, a oportunidade de oferecer conhecimento sobre assuntos tão importantes por especialistas no assunto, mas com uma linguagem clara e com baixo custo de compra.

O livro é curto, um pouco mais de 100 páginas, mas também certeiro e transmite seu conteúdo de forma objetiva. Sua estrutura se organiza em 4 partes: contexto histórico sobre o assunto, a situação da mulher negra na sociedade, a definição do lugar de fala e alguns equívocos sobre o termo.

O estilo da escrita da autora é muito semelhante às análises literárias, e percebe-se a pesquisa que Djamila Ribeiro fez sobre diversas mulheres feministas (brancas e negras) sobre o assunto. A partir de diversas citações a autora dialoga com os leitores sobre os possíveis significados e suas interpretações sobre diferentes autores e suas perspectivas, ora semelhantes, ora conflitantes.

Esse livro é um excelente exercício de introdução sobre aspectos do feminismo negro e da importância da interseccionalidade ao elencar a importância de considerar gênero, raça e classe como fatores essenciais para a discriminações e desigualdades sociais. Djamila Ribeiro cita diversas autoras e autores como Angela Davis, Conceição Evaristo, Lélia Gonnzalez e Stuart Hall, tanto ao longo de seu texto, como numa parte final listando os materiais que ela utilizou em sua extensa pesquisa. Essas referências também podem servir de interesse para aqueles que desejam se aprofundar nessas questões e buscar mais autores que tratam desses assuntos. Eu particularmente fiquei muito tentada a conhecer a obra de Grada Kilomba:

Memórias da plantação é uma compilação de episódios cotidianos de racismo, escritos sob a forma de pequenas histórias psicanalíticas. Das políticas de espaço e exclusão às políticas do corpo e do cabelo, passando pelos insultos raciais, Grada Kilomba desmonta, de modo incisivo, a normalidade do racismo, expondo a violência e o trauma de se ser colocada/o como Outra/o.

Publicado originalmente em inglês, em 2008, Memórias da plantação tornou-se uma importante contribuição para o discurso acadêmico internacional. Obra interdisciplinar, que combina teoria pós-colonial, estudos da branquitude, psicanálise, estudos de gênero, feminismo negro e narrativa poética, esta é uma reflexão essencial e inovadora para as práticas descoloniais.

Até o próximo post.

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12 Comentários

  1. Oi Camila, eu leio livros, mas nunca com objetivo de ler X números de livros nacionais ou não. Dos 23 livros lidos até agora, só um foi nacional.

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    1. Oies Mauro! Eu tbm não costumo fazer, só que aí percebi que tenho dado mais atenção aos livros estrangeiros que aos nacionais, por isso me propus a conhecer mais da nossa literatura e tem sido uma experiência muito gratificante. 🙂

      Curtido por 1 pessoa

      1. Fiz um post com autoras e autores nacionais que li, mais elas.

        Curtido por 1 pessoa

  2. Curto muito seus posts, são muito bem criativos e interessantes.. Sempre estou aqui lendo e compartilhando com minhas amigas…

    Beijos 😘.

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    1. Oies Fernanda! Primeiramente seja muito bem vinda e poxa, que felicidade ao ler sua mensagem, significa muito para mim, de verdade! ❤ Bjos

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  3. Me deu um olhar diferente sobre a Djamila, obrigada!

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    1. Oies! Poxa, fico feliz por isso 🙂

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  4. Oi, Ca! Acabei de publicar minha resenha de Lugar de fala, eu li ontem no meu primeiro dia de “férias” e me lembrei que não tinha lido a sua resenha do livro ainda (embora os seus posts no Instagram tenham me instigado a ler essa coleção). Eu destaquei praticamente os mesmos trechos que você. Hahaha Nossa, foi um livro que me ensinou muito! Djamila é maravilhosa. Quero ler todas as obras da coleção ainda. Eu tenho também o do Silvio Almeida que será uma das minhas leituras do 1º semestre de 2021. Também fiquei muuuito interessada em ler Grada Kilomba.

    Beijo,
    Brenda

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