Oies Bookaholics!
Via a vis foi uma das minhas escolhas dentre as 10 séries para 2020 e apesar de trazer assuntos muito relevantes eu tive uma relação de amor e ódio. A Netflix disponibiliza as 4 temporadas em seu canal de streaming.
Macarena (Maggie Civantos) uma jovem mulher de vinte poucos anos, ambiciosa, manipulada pelo chefe, comete vários crimes na empresa em que trabalha. Sendo descoberta, foi acusada de quatro crimes fiscais. Durante o julgamento ela vai para a cadeia feminina, chamada Cruz del Sur12 de forma preventiva.
Além da temática intrigante, outro motivo essencial que me fez querer assistir Vis a vis foi por ser uma série da Espanha, o que é sempre bom para sair do imperialismo norte-americano e conhecer a produção de outros países.
Essa é uma série extremamente pesada, trazendo cenas de abuso e violência extrema, não por acaso a classificação é para maiores de 18 anos. Mas se você for sensível a diversos temas, talvez não seja o se tipo de série. Eu mesma fiquei angustiada em diversas cenas.
O que achei interessante em Vis a vis é que a série não foca apenas em um personagem específica, mas traz o sistema carcerário num todo, da administração, carcereiros e médicos às detentas e alguns de seus familiares. Ainda mais, o sistema carcerário do Cruz del Sur e Cruz del Norte são instituições privadas que buscam diferentes tratamentos no tratamento das reclusas, mas é só algo aparente do que acontece nos presidiários públicos. Confiram mais detalhes sobre isso nos spoilers ao final do post!
Foi muito difícil me apegar a qualquer personagem, nas duas primeiras temporadas o foco era em Macarena, mas eu não conseguia gostar, achava muito sem graça. As demais também eram bem difíceis e só quando o foco saiu da Macarena é possível conhecer um pouco mais das demais. Acho que a minha “antipatia” se deu principalmente porque as presas por mais “boas” que fossem precisavam adotar medidas para a sua própria sobrevivência no cárcere. Essa ideia me lembrou muito de uma frase do filósofo Jean-Jacques Rousseau: “O homem é bom por natureza. É a sociedade que o corrompe.”
Ao longo das temporadas vamos acompanhando a natureza dessas mulheres e por mais que eu abomine diversas de suas atitudes e crimes, muitos deles tinham suas motivações, seja pelo abandono da família, abuso de seus companheiros e até mesmo dos pais. Fica difícil julgá-las sem levar em conta esse contexto. Mas mesmo assim t:em algumas que parecem ser ruins mesmo, nos fazendo torcer por um fim muito trágico que compense as atrocidades que cometeram.
Durante toda a série há cenas em que as presas são entrevistadas e são nesses momentos que elas são ouvidas, sem julgamentos. São questionadas sobre a vida antes e durante a “estadia”, assim como a relação que elas têm com as outras presas, sendo que no ambiente em que elas estão qualquer coisa é motivo para grandes conflitos e brigas entre elas. São poucas as relações sinceras de amor, amizade e lealdade, afinal cada uma está lá sozinha, apenas para sobreviver.
Dentro desse universo da série há muita diversidade nas personagens, seja na raça, cultura e etnia e esse é um ponto que merece destaque. Temos personagens negras, ciganas, lésbicas, árabe, gordas, magras, prostitutas, viciadas etc. Mas não acho que essas características são suficientes para dizer que a série é feminista, há muitas controvérsias. As atrizes principais desempenham seus papéis de forma maravilhosa, visto que exige de muita carga dramática para contar suas histórias.
O problema da série são os diversos furos no roteiro que chegam a irritar demais: personagens importantes que somem do nada, além de diversas inconsistências, como a facilidade que Zulema (a elfa do inferno) tem de aprontar poucas e poucas e sempre conseguir se livrar da polícia. Chega uma hora que eu não me desanimava tanto que precisava parar de assistir para voltar muito tempo tempo depois. Com tanto altos e baixos e diversos furos eu nem me interessei em assistir o spin-off Vis a vis: El Oasis, que está sendo exibido na Espanha, mas ainda não tem data para sair aqui no Brasil.
De qualquer modo ao assistir Vis a vis me interessei ainda mais pela obra de Drauzio Varella em que relata suas experiências enquanto médico nos presídios brasileiros, principalmente o livro Prisioneiras que fala especificamente sobre as mulheres:
O trabalho de Drauzio Varella como médico voluntário em penitenciárias começou em 1989, na extinta Casa de Detenção de São Paulo, o Carandiru. Os anos de clínica e as histórias dos presos, dos funcionários e da própria cadeia seriam retratados nos aclamados livros Estação Carandiru (1999) e Carcereiros (2014). Em 2017, Drauzio encerra sua trilogia literária sobre o sistema carcerário brasileiro com Prisioneiras. Alçando as mulheres encarceradas a protagonistas, o médico rememora os últimos onze anos de atendimento na Penitenciária Feminina da Capital, que abriga mais de duas mil detentas. São histórias de mulheres que não raro entram para o crime por conta de seus parceiros inclusive tentando levar drogas aos companheiros nas penitenciárias masculinas em dias de visita , porém que são esquecidas quando estão atrás das grades. As famílias conseguem tolerar um encarcerado, mas não uma mãe, irmã, filha ou esposa na cadeia. No ambiente carcerário feminino, há elementos comuns às penitenciárias masculinas. Assim como no Carandiru, um código de leis não escrito rege as prisioneiras; o Primeiro Comando da Capital (PCC) está presente e mostra sua força através das mulheres que integram a facção; e a relação entre aquelas que habitam as cadeias não é menos complexa. As casas de detenção femininas, no entanto, guardam suas particularidades diferenças às quais o médico paulistano dedica atenção especial em sua narrativa. Desde a dinâmica dos atendimentos e a escassez de visitas até os relacionamentos entre as presas, fica nítido que a realidade das prisões escapa ao imaginário de quem vive fora delas. Prisioneiras é um relato franco, sem julgamentos morais, que não perde o senso crítico em relação às mazelas da sociedade brasileira. Nesse encerramento de ciclo, Drauzio Varella reafirma seu talento de escritor do cotidiano, retratando sua experiência e a vida dessas mulheres com a mesma disposição, coragem e sensibilidade que empreendeu ao iniciar seu trabalho nas prisões há quase três décadas.
Spoilers
Como mencionei anteriormente há diversas situações que desmascaram a ações adotadas nos presídios que se dizem diferentes. Desde a revista das novas detentas sendo expostas sem nenhuma cerimônia, racismo e abusos pelos profissionais que trabalham lá. Os homens usam de chantagens contra as internas, chegando inclusive a estuprá-las.
O próprio médico/psicólogo Sandoval é um doente mental, além de abusar sexualmente das presas em troca de favores (como remédios, exames etc) chega a engravidar uma presa após dopá-la e estuprá-la, fora as demais atitudes que comete ao se tornar diretor: faz com que uma das presas seja devorada por cachorros na frente de todas para que elas não trafiquem drogas. Eu nunca senti tanto ódio por um personagem como senti por esse, e claro que torcia muito para que o seu fim fosse o mais trágico possível. As condições dos alimentos também são deploráveis, com tudo da pior qualidade e estado, alimentos que nem os porcos comeriam.
Tratadas de forma desumana como esperar um comportamento minimamente humano adequado dessas mulheres encarceradas?
Até o próximo post.
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Adoro! E estou ansiosa pela próxima temporada! Uma série clichê mas super cativante!
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Ah, eu entendo, mas sabe que não me animei e nem quero ver El Oasis? rs Depois me diga o que achou, viu?!
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