Resenha | As mil partes do meu coração, de Colleen Hoover

Oies Bookaholics!

Colleen Hoover é uma das minhas escolhas seguras para quando não estou muito animada com as leituras, já que a sua narrativa é extremamente viciante e seus personagens profundos. As mil partes do meu coração foi um livro que mexeu muito comigo, se tornou um dos meus favoritos da autora e é um daqueles que todos precisam ler!

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★★★★

Without Merit – Tradução: Ryta Vinagre – Galera Record – 2018 – 336 Páginas

Para Merit Voss, a cerca branca ao redor da sua casa é a única coisa normal quando o assunto é sua família, peculiar e cheia de segredos. Eles moram em uma antiga igreja, batizada de Dólar Voss. A mãe, curada de um câncer, mora no porão, e o pai e o restante da família, no andar de cima. Isso inclui sua nova esposa, a ex-enfermeira da ex-mulher, o pequeno Moby, fruto desse relacionamento, o irmão mais velho, Utah, e a gêmea idêntica de Merit, Honor. E, como se a casa não tivesse cheia o bastante, ainda chegam o excêntrico Luck e o misterioso Sagan. Mas Merit sente que é o oposto de todos ali. Além de colecionar troféus que não ganhou, Merit também coleciona segredos que sua família insiste em manter. E começa a acreditar que não seria uma grande perda se um dia ela desaparecesse. Mas, antes disso, a garota decide que é hora de revelar todas as verdades e obrigá-los a enfim encarar o que aconteceu. Mas seu plano não sai como o esperado e ela deve decidir se pode dar uma segunda chance não apenas à sua família, mas também a si mesma. As mil partes do meu coração mostra que nunca é tarde para perdoar e que não existe família perfeita, por mais branca que seja a cerca.

O que eu mais admiro nas obras da autora é sua capacidade de nos fisgar nas primeiras páginas e nos deixar imersos na estórias, mesmo não concordando muito com algumas atitudes de seus personagens. Without Merit já tem um início bem curioso: uma garota de 17 anos que tem o hábito de colecionar troféus que ela não ganhou, e ainda, faz questão de comprá-los quando alguma coisa ruim acontece com ela.

No decorrer das páginas vamos conhecendo a estória dessa personagem que se fecha em seu próprio mundo devido os conflitos em sua família. Colleen Hoover nos apresenta um daqueles típicos dramas numa casa em que convivem os pais separados e a esposa atual, os três filhos do primeiro casamento, além de filho de 4 anos, fruto da relação extraconjugal, enquanto a esposa estava fazendo tratamento para câncer. E mais ainda: a nova esposa era a ex-enfermeira que cuidava da doente.

Sob o ponto de vista de Merit, acompanhamos o desenrolar de todas essas tretas e a revolta por sua família sequer mencionar os segredos/problemas. A protagonista é daquelas pessoas que a gente percebe que há algo de errado, mas que não sabe lidar muito bem com as circunstâncias familiares à sua volta. E o pior: parece que ninguém enxerga o que está acontecendo com ela, cada vez que ela se afunda ainda mais em suas angústias.

Merit não é nem de perto uma personagem perfeita, e como estamos somente com a sua perspectiva fica difícil julgar a situação sem saber a opinião dos demais envolvidos. Cheguei inclusive a me irritar em diversos momentos com algumas atitudes da garota que julgava o tempo todo a atitude de todos, mas acaba cometendo tantos erros quanto eles. Mesmo sabendo as possíveis consequências de seus atos, e digo isso principalmente pelo fato dela tentar fingir sua irmã gêmea idêntica.

Mas ao mesmo tempo foi interessante ver a maneira como a autora desenvolveu uma personagem cheia de erros e que vai amadurecendo com as suas escolhas. Para isso  ela precisa rever suas duras críticas, e até justificáveis, sobre aqueles com que ela divide os laços sanguíneos e o teto, com bases tão frágeis. Notamos que por mais cruéis que as coisas são, cada personagem tem os seus motivos e somente quando aos segredos são revelados as feridas podem finalmente começar a cicatrizar.

Ficamos abraçadas por um bom tempo e isso me fez questionar por que todo nessa família se opuseram tanto à sinceridade e aos abraços nos últimos anos. Acho que todos nós chegamos ao ponto em que esperávamos que alguém tomasse a iniciativa, mas ninguém jamais tomou. Talvez essa seja a origem de muitos problemas: ninguém tem a coragem de dar o primeiro passo para falar desses problemas. (p. 294)

Acho que este foi o livro que conseguiu falar de forma cuidadosa sobre transtornos mentais: depressão, ansiedade e agorafobia. Ressalta a importância de se reconhecer os sinais, da força do diálogo, do perdão e principalmente a necessidade de se buscar ajuda, independente da idade. Por mais que o livro ao final traga um quentinho no coração e um sentimento de esperança algumas cenas podem servir de gatilho.

Descobri que a depressão não significa necessariamente que a pessoa está infeliz ou é suicida o tempo todo. Ser indiferente também é um sinal de depressão. (pp. 241-242)

Destaco também que a capacidade da autora ao situar boa parte do livro somente na casa, mostrando tanto o enclausuramento da protagonista fechada em seu próprio mundo, como o ambiente um tanto curioso da família Voss. O ambiente determina não só a imagem que Merit tem de si mesma e de sua família, assim como a imagem que os vizinhos têm deles, e isso significa que somente quem está inserido na situação sabe que as aparências são apenas a ponta do iceberg.

O que não significa que os temas girem somente em torno dessa família. A guerra civil na Síria também é retratada no livro e ajuda o leitor, principalmente nós do ocidente, a compreender um pouco da crise no Oriente Médio e a situação dos refugiados. Vale a pena conhecer um pouco dessa realidade e ter empatia, ao invés de preconceitos.

Claro que nesse livro também tem romance, afinal é um livro do gênero young adult e é quase impossível não torcer pelo casal, mas esse não é tema central da estória. Eu vibrei principalmente porque finalmente li uma estória em que a autora não utiliza daquele clichê do boy escroto incompreendido por conta de um trauma do passado. O personagem aqui inserido é extremamente fofo, e enxerga muito bem as fragilidades de Merit.

Gosto de você o bastante para te beijar. Pode acreditar. Mas queria que você pudesse gostar de si mesma tanto quanto gosto de você. (p. 233)

Mesmo com a bagagem pesada que ele traz consigo, e mais uma vez toca na tecla das diferentes perspectivas e como cada pessoa reage a uma situação, o que não significa que os problemas de uns são maiores que o de outros.

 

Por fim peço: apenas leiam As mil partes do meu coração.

 

Até o próximo post.

Redes sociais *Skoob/ *Goodreads/ *Instagram/ *Facebook/ * Filmow

 

 

 

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3 Comentários

  1. Que livro maravilhoso. Li final do ano passado, e ja se tornou parte de mim, meu queridinho. Sem palavras para dizer o quando amo esse livro.

    Curtido por 1 pessoa

    1. Olha, eu até ouso dizer que foi o melhor que eu li da autora até o momento, mas é difícil desmerecer Um caso perdido, afinal foi paixão e sofrimento à primeira leitura ❤

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  2. […] As mil partes do meu coração, de Colleen Hoover – 4,5 ★ […]

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