Diário da Faculdade | Sobre o 10º e último semestre em Letras

Oies Bookaholics!

Eu nem acredito que esse último semestre do curso chegou ao fim, então sim, apesar de ainda não ter o diploma eu estou formada no curso Bacharel em Letras Português-Inglês pela Universidade de São Paulo. Essa conquista foi a realização de um sonho, mas antes de fazer um post todo meloso sobre vou esperar o resultado oficial com o diploma em mãos (porque vai que deu ruim e eu não formei, rs).

Esse post é para falar sobre o 10º e último semestre, as matérias que cursei, as minhas experiências e os perrengues como vocês estão acostumados a ver por aqui. De início posso esclarecer uma coisa, o curso tem a duração de 5 anos, mas depende muito do aluno concluir nesse período, o ingressante tem até 2 anos e meio a mais para concluir antes de ser jubilado. Mas como depende de diversos fatores como trabalho, ritmo, afastamentos e por não ter um turma fechada é o aluno que monta s sua grade de disciplinas  cumprindo os 185 créditos exigidos entre as disciplinas obrigatórios, as optativas eletivas e as optativas eletivas livres.

Sim, e confuso, eu sei. Tanto que no final do ano passado eu recorri à seção de alunos do curso para solicitar a contagem de créditos e assim eu conseguir organizar o meu último ano. Então eu já tinha uma noção de quais disciplinas cursar diante da variedade de optativas disponíveis no curso. Para esse último semestre eu precisava cumprir 4 créditos de optativa eletiva  e cumpri ainda 9 créditos em optativas livres, também iniciei a licenciatura com uma das disciplinas eletivas que creditavam mais 4 créditos.

Eu queria um semestre bem tranquilo, tanto que escolhi os professores que sabiam que eram também mais tranquilos e matérias que de fato eu gostaria cursar, mas com o passar dos últimos meses foi muito estressante e por diversos motivos que vou compartilhar aqui com vocês.

A primeira coisa que fez muita diferença para mim foi cursar duas disciplinas fora do curso de Letras, então fui curso de Editoração da Escola de Comunicações e Artes e à Faculdade de Educação para cursar a matéria da Licenciatura. Um aspecto que ambas essas disciplinas possuem é que as aulas duravam 4 horas, eu não estava acostumada porque na Letras as aulas duram no máximo duas. Com isso eu passei muitas aulas pensando que “estava perdendo tempo”, já que na maioria das vezes as aulas poderiam ser mais resumidas e diretas, parecia que não evoluía, entendem? Por conta do tempo menor, na Letras eu tinha a impressão de que as aulas eram muito mais objetivas e diretas.

 

Sobre as disciplinas que cursei

 

  • Literatura e Diferença

Estudar diferentes representações literárias que dialogam com o centro e com as narrativas canônicas; aprofundar os conceitos de centro e margem nos encontros de culturas desde uma perspectiva teórica pós-colonial, focalizando o processo de transculturalidade. Seus focos são: 1) políticas de reconhecimento e diferença; 2) representações de encontro entre culturas; 3) questionamentos sobre o processo de construção de identidades; 4) etnicidade e indigenismo; 5) questões de raça, gênero e classe; 6) nacionalismo e hibridismo; 7) Literaturas pós-coloniais e os contra-discursos das literaturas das diásporas. O principal interesse dessa disciplina na formação do futuro professor reside no seu tratamento de questões centrais à experiência contemporânea, como alteridade, diferença, e na discussão de problemas de grande atualidade, como raça, gênero e classe. Prepara o futuro professor para o entendimento e enfrentamento de fontes de conflito na vida em grupo.

Dentre as optativas eletivas da habilitação em Inglês que eu precisava cursar escolhi essa, já que o curso é muito focado em obras canônicas. Foi muito interessante ver a literatura produzidas por países que foram colonizados e com isso o relato das experiências e os choques culturais. Mas acho que a matéria acabou por ser muito rasa, já que a professora abordou as literaturas irlandesa, africanas (África do Sul e Nigéria), caribenhas, japonesa, indiana e as de movimentos culturais dos negros tanto da Inglaterra quanto nos Estados Unidos. Vi muito do contexto histórico a partir de filmes recomendados no programa, contos, poesia e os dois romances estudados foram Desonra, de J. M. CoetzeeDeixe o grande mundo girar, de Colum McCann. Tivemos diversas aulas com alunos da pós-graduação sobre determinados autores e foi interessante. A disciplina também foi estressante porque eu cursava na segunda-feira de manhã, o que me obrigava a ter sempre algum texto para ser lido no domingo (e eu queria descansar), além do método de avaliação utilizado pela professora, que consistia num trabalho sobre o primeiro romance comparado com algum outro conto ou poesia ou filme e no final do semestre uma prova em sala de aula (e eu odeio fazer prova de literatura). Porém a professora não entrega a correção do primeiro trabalho, e nem os assuntos que caíram na prova, nos forçando a ler tudo. Eu fechei muito bem a disciplina, a professora era uma senhorinha muito fofa, mas acho que se fosse mais focado em uma determinada literatura seria mais interessante e aproveitável do que um panorama superficial.

 

  • Tópicos do Romance

A disciplina visa oferecer ao aluno a possibilidade de estudar algumas das questões fundamentais do gênero romance, tal como vêm sendo estruturadas por romancistas desde a ascensão do gênero no século XVIII até os nossos dias. Tem como foco o estudo analítico de elementos específicos do gênero romance, sob a perspectiva da relação entre configuração formal e processo social, e o estudo de textos representativos que mostrem como o romance estrutura temas da vida social, tais como classe, etnicidade, identidade, gênero (gender), entre outros. Essa disciplina complementa as outras dedicadas ao estudo desse gênero, ampliando o repertório de leituras do futuro professor, assim como seu acesso a problemas e a tradições não tratados nas anteriores. Disciplina de corte monográfico, ela dá oportunidade para o futuro professor de adquirir os conhecimentos necessários para estruturar um trabalho de pesquisa.

Essa disciplina depende de cada professor e a minha optou pela temática da distopia, com isso os romances estudados foram 1984, de George OrwellOs despossuídos, de Ursula K. Le GuinO conto da Aia, de Margaret Atwood, clássicos do gênero. Eu até preciso me redimir porque eu cursei uma disciplina obrigatória com a professora anteriormente e detestei, corria dela e por conta dos horários precisei fazer com ela e sabe que eu adorei! A Maria Elisa Cevasco não é nada convencional e até acho ela bem doida na verdade, dessa vez achei as aulas dela muito boas, algumas até foram incríveis porque eu ficava perdida e nunca entendia o que ela queria nos trabalhos. Ela é tipo de professora que espera que a sala discuta os assuntos em vez de ter uma aula tradicional, ela é super engraçada e nem passa a lista de chamada, acho que com a experiência de ler alguns críticos as explicações dela ficaram muito claras para mim dessa vez e pude aproveitar muito mais. Os filmes V de vingança (Dir. James McTeigue, 2005) e Coringa (Dir. Todd Philips, 2019) também entraram no programa e foram discutidos em sala, mas como eu não tinha assistido o último ainda não fui. A série O conto da aia também entrou no debate em comparação com o livro de Margaret Atwood. Seu método de avaliação consistir em entregarmos um “issue paper” de cada romance, ou seja, apontar uma questão apenas sem respondê-la e no final um “vomit paper” também sobre esses romances em que poderíamos discutir um ponto sobre. O melhor é cada trabalho deveria ter apenas uma página, já que segundo ela nós não tínhamos condições de escrever bem várias ideias num único trabalho hahaha. Seriam 6 trabalhos valendo 2 pontos cada e com isso um poderia ser descartado ou o que tivesse a menor nota desconsiderado, mas no final ela disse que poderíamos entregar apenas 4, o que foi maravilhoso para mim que já estava esgotada no final do semestre. Gostei muito!

 

  • Laboratório de Produção Editorial I

A disciplina, consoante ao espírito da atividade laboratorial exigida em um curso de formação específica como o de Editoração, propõe recompor através de seu programa toda a cadeia produtiva do livro impresso ou eletrônico: análise e seleção de originais, projeto gráfico, composição, revisão e fechamento de arquivo. Incorpora, outrossim, conceitos e práticas de produção editorial sobre suportes diversos, fazendo uso, de modo especial, de novas tecnologias no campo da editoração eletrônica e seus recursos de hipermídia.

Essa foi a disciplina que escolhi cursar na Editoração e diferente de tudo o que eu já tinha feito era uma disciplina prática, já que as atividades destinavam a atender às demandas da Com-Arte, editora laboratório do curso de editoração da ECA-USP. Tive 3 módulos: marketing editorial, o trabalho com o texto e preparação de originais e cada módulo foi lecionado por um professor diferente. O maior estresse foi que os trabalhos eram realizados em grupo, e vocês devem ter uma noção dos problemas envolvidos ainda mais porque eu não conhecia ninguém e tive uma experiência não muito agradável quando cursei Introdução à Editoração. Eu pensei que seria uma disciplina tranquila e de fato pude comprovar que trabalhar numa editoração estava muito longe da romantização que fazemos sobre o mercado.

No módulo de marketing editorial tivemos alguns conceitos básicos sobre a cadeia produtiva do livro, a missão da Com-Arte e seu catálogo e como trabalho deveríamos desenvolver uma proposta para reinserir um título da editora laboratório no mercado. Apontamos algumas ideias no papel incluindo redes sociais, mas a professora gostou tanto que de fato fizemos um evento literário, e aqui envolvia negociação de valores com a autora, divulgação e arte, etc.

No segundo módulo o trabalho com o texto seguiu o trabalho com a confecção de resumos dos livros para compor os textos do catálogo, seleção de originais, especificamente de contos para a revista do curso Originais Reprovados e por fim uma trabalho envolvendo revisão de originais, que possuía diversas etapas. Essa foi a parte que tive mais dificuldade e até em sentia incapaz, e comecei a perceber que talvez o mercado não fosse para mim. Busquei o professor Thiago e ele sempre foi muito solícito para tirar dúvidas e me orientar durante os trabalhos. No mesmo período fiz um curso online de Gramática para preparadores e revisores de textos para me aprimorar nessa área.

O terceiro módulo foi a preparação de originais, especificamente o trabalho era com normalização, ou seja, a ideia era pegar o texto que chega para a editora e indicar as marcações necessária seguindo as normas. Isso inclui indicação de defeitos no texto, como nomes, títulos, os tipos de realce, os critérios com as notas de rodapé e bibliografia. É um pouco chato e trabalhoso, mas gostei.

Outras atividades que acabei desenvolvendo também foi a leitura de verificação, que é um processo antes da impressão do livro e é realizado por uma pessoa que não fez parte do processo de produção, cuja função é ler apontando algum erro que possa ter passado batido. Quando o livro finalmente for lançado eu conto mais detalhes sobre a experiência e faço resenha. Outra atividade obrigatória era vender livros na Festa do Livro da USP e adorei a experiência como livreira!

Preciso muito dizer que os professores Marisa, Thiago e Plínio são profissionais incríveis e me senti honrada em ser alunas deles durante esses semestre. Todos foram muito solícitos comigo e sempre ajudavam quando aparecia algum problema (e olha que foi foda em alguns), e confesso, a forma com que lidavam com os alunos de forma muito respeitosa nem se compara com o comportamento da maioria dos professores da Letras. Eu fiquei super emocionada quando fui entregar o último trabalho e encontrei com a Marisa, que super me elogiou e disse que eu tinha talento para o mercado editorial, reconhecendo o meu potencial. Disse que o curso estava de portas abertas para me receber e que eu deveria reingressar em editoração (Deus me livre, mas quem me dera!), quando expliquei que estava me formando em Letras. Saí com a sensação de trabalho cumprido e muito feliz em ver que mais uma vez alguma situação mostra que eu sou capaz quando eu não acredito em mim mesma.

 

  • Introdução aos estudos da educação: enfoque filosófico

Exercitar a leitura e a análise de textos clássicos da tradição filosófica sobre Educação. Discutir os fundamentos antropológicos, éticos, políticos e epistemológicos da Educação e suas conexões com a experiência e a prática docente. Prática como Componente Curricular (PCC): Constituem atividades de Prática como Componente Curricular (PCC) exercícios de interpretação filosófica de obras cinematográficas e literárias que focalizam as instituições escolares, seus profissionais e agentes e projetos de investigação acerca da consistência teórica e argumentativa dos discursos e proposições presentes no contexto de ensino e prática docentes, sejam os de origem oficial (normas e deliberações), sejam outros, de caráter difuso e marcados pelo senso comum.

Essa foi a disciplina da Licenciatura e falei sobre o autor estudado no post Diário da Faculdade | A filosofia da educação de John Dewey. Além de achar o período de aula muito longo como eu mencionei anteriormente, as aulas até que eram bem humoradas por conta do professor Cauê. Por ser uma disciplina introdutória da licenciatura há alunos de diversos cursos, então o foco é mais geral e não específico como no curso de Letras. A forma de avaliação escolhida era que fizéssemos duas provas/trabalhos em casa sobre alguns pontos específicos do autor John Dewey e no segundo ainda relacionar alguns conteúdos com passagens do romance Debaixo das rodas, de Hermann Hesse. Foi interessante em diversos aspectos, e saí da minha zona de conforto já que filosofia não é um dos meus pontos fortes, e nessa disciplina eu poderia escolher fazer enfoque histórico e enfoque sociológico. Eu fechei muito bem, mas infelizmente não foi a disciplina que me fez apaixonar pela área da educação e querer trabalhar profissionalmente, infelizmente.

 

Atividades Extras

Nesse último semestre voltei a participar de um grupo de pesquisa no curso de Letras, e esse é voltado para a literatura e cinema contemporânea e estudamos principalmente sobre a crise do capitalismo, as relações de trabalho e neoliberalismo. O professor que coordena é um professor que trabalha a literatura norte-americana e cinema num geral, estou gostando muito, já que a base é do alemão Bertolt Brecht.

Outra atividade que durou o ano todo e provavelmente vai continuar no ano que vem é produção de um livro! Sim, a partir da disciplinas de Estudos Discursivos e Tópicos de Língua e Cultura o professor selecionou trabalhos para comporem esse livro. Meu capítulo vai falar sobre raça e gênero, e com isso estereótipos e racismo, e apesar do trabalho eu amo fazer parte deste projeto. Assim que o livro sair venho aqui falar mais detalhadamente sobre! 😉

 

Estou muito feliz por ter concluído essa etapa e se preparem que virão mais posts em 2020 sobre o curso de Letras com alguns pontos mais específicos 😉

 

Até o próximo post!

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8 Comentários

  1. Parabéns pela conquista, Cah! E, como sempre, excelente post!

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    1. Oies Tati! Obrigadaaa ❤ ❤ ❤ #PartiuMestrado

      Curtido por 1 pessoa

  2. A primeira disciplina que vc falou pareceu bem interessante. Pena que foi rasa 😦

    No mais, parabéns pela conquista! Sei que apesar de estressante, valeu muito a pena!

    Curtido por 1 pessoa

    1. Oies Isa! Sim, eu gostei muito, mas até concordo com um comentário de uma colega sobre a disciplina: “parecia que toda aula era um episódio diferente e aleatório do History Channel” hahaha.

      Obrigada! E sim, valeu muito a pena!!! ❤ ❤

      Curtido por 1 pessoa

  3. Desejo que o seu Natal e de sua família, seja brilhante 💫 de alegria, iluminado de amor 💓 , rodeado de paz e repleto de harmonia. Feliz Natal 🎄!

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    1. Obrigada Biaaa! Que seu natal tenha sido de muita paz e harmonia, te desejo para 2020!!! Feliz ano novo! ❤

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  4. Parabéns por ter se formado! Eu desejo sorte com o diploma. Quando me formei o departamento da minha universidade errou meu nome no diploma e depois perdeu toda minha documentação! Foi um desastre! Só consegui segurar o diploma 8 meses depois da festa de formatura.

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    1. Oies! Ah muito obrigada, é uma grande realização para mim! Mulher que treta com o seu diploma, imagina o desespero, estresse e raiva! Porque já é uma luta iniciar a faculdade, seguir no curso até o final e até pra pegar o diploma dá umas complicações dessas =/ Parabéns pq vc foi muito guerreira em todos os processos, viu?

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