Oies Bookaholics!
Nos últimos dois anos tenho me interessado bastante pela literatura feminista negra e após ler Mulheres, raça e classe eu fiquei fascinada pelo trabalho desenvolvido pela ativista norte-americana Angela Davis. Não foi à toa que eu surtei quando Boitempo, editora que publica os livros da autora aqui no Brasil anunciou que traria Davis para o lançamento de sua autobiografia.
Okay, mas talvez vocês não tenham ideia de quem eu estou falando, e por isso recomendo esse pequeno resumo sobre a autora 😉
Na verdade, a editora promoveu o seminário Democracia em colapso?, com demais nomes de peso do cenário militante de esquerda. Mas, contudo, entretanto… O evento seria realizado no Sesc Pinheiros que não comporta uma quantidade muito grande de participantes e com isso as inscrições acabaram em minutos, eu iludida até tentei um ingresso individual para o dia em que teria uma palestra com a autora, mas para minha frustração não rolou, e olha que fiquei de plantão muito tempo antes das inscrições abrirem.
Porém, em parceria com outras instituições, organizou um evento aberto para que nós brasileiros pudéssemos ter a experiência de ver Angela Davis falando ao vivo. O lugar escolhido foi o lado de fora do auditório Oscar Niemeyer no Parque do Ibirapuera, na zona sul de São Paulo e com capacidade de 15 mil pessoas. Eu fui com a minha xará e mais dois amigos dela, e como saberíamos que ia lotar, chegamos cedo para acampar em plena segunda-feira: choveu, atrasou, foi muito cansativo e estressante, mas valeu muito a pena.
Apesar de ser a sexta vez que a autora vem ao Brasil, foi a primeira que Angela Davis veio à cidade de São Paulo. E a primeira coisa que me impactou foi ver de perto a força dessa mulher de 75 anos que se mostrou também muito lúcida e perspicaz em suas falas. Outro ponto que me chamou muito a atenção foi ver o quanto ela conhece do Brasil, dos diversos problemas e projetos desenvolvidos por mulheres negras aqui, não por acaso sua fala girou muito em torno das queimadas na Amazônia, as mortes de crianças negras nas comunidades do Rio de Janeiro pela polícia e principalmente do assassinato de Marielle Franco.
Por isso, a autora fez uma chamada ao público: não consumam apenas a literatura feminista de autores estrangeiros, conheçam os projetos que vêm sendo desenvolvidos aqui. Ela mencionou que além de criar laços com as causas militantes do Brasil ela quer levar a nossa literatura para os Estados Unidos e os demais países que ela visita.
Quando eu disse que Davis conhecia muito o Brasil eu também me referia aos pontos positivos, como a parte cultural com as cantoras negras brasileiras Clara Nunes, Elza Soares e Margareth Menezes.
Se eu estava bem emocionada com todas as falas, imagina então quando lhe foi perguntando sobre a sua relação com a autora Toni Morrison, autora que infelizmente faleceu alguns meses atrás e que eu tive o prazer de conhecer a obra na faculdade (confiram: Resenha | Amada, de Toni Morrison). Isso porque Toni Morrison também atuava como editora e foi quem incentivou Angela Davis a escrever uma autobiografia, Davis destacou muito a importância de Toni Morrison, que não lutava de forma “comum” na militância, mas que consolidou no mercado a publicação de negros e principalmente mulheres feministas negras. No vídeo tem a fala na íntegra:
O evento também contou com comentários da pesquisadora Raquel Barreto, responsável pelo prefácio da autobiografia, e da escritora Bianca Santana, com mediação de Christiane Gomes (Fundação Rosa Luxemburgo). E não poderia deixar de fora a fala da Bianca Santana, autora que já conhecia por conta do livro Quando me descobri negra e alguns outros projetos, que de forma muito sensata e provocadora questionou a multidão onde estávamos quando houveram os protestos contra a morte da menina negra Ágatha Félix no Rio de Janeiro e tantos outros casos… Sua fala ressaltou sim a importância de Angela Davis no Brasil, mas que o público não se interessava de perto pelas ações e lutas daqui.
O dia 21 de outubro foi um dia emblemático, me fez refletir muito, rever alguns posicionamento e até mesmo falta deles em diversas situações, de apesar de ser uma mulher negra eu estou ainda muito por fora das causas.
Segue fala da autora no seminário Democracia em colapso?:
Até o próximo post!
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