Curso | Mercado editorial hoje: novas possibilidades e novos agentes – Parte II: Wish, Draco e Pólen Livros

Oies Bookaholics!

Em continuidade ao curso que pude realizar no Centro de Formação e Pesquisa do Sesc, hoje trago o resumo da segunda parte com os encontros 3 e 4. Mas, caso você não sabe do que eu estou falando, peço que confiram Parte I: Clepsidra, Lote 42, Tag e Leiturinha para compreenderem melhor sobre as temáticas tratadas nesse encontros.

 

3º Encontro – Publicações de nicho e financiamento coletivo: casos de sucesso (Editoras Wish e Draco)

Apesar de ter amado o curso no geral, esse encontro foi o que mais gostei por trazer um assunto que eu tinha nenhum conhecimento sobre: crowdfunding / financiamento coletivo para livros.  A Marina Avila, fundadora da Editora Wish compartilhou suas experiências, editora esta que desde 2013 vem publicado seus livros nesse modelo não tradicional de publicações no mercado. Formada em Design, a CEO já tinha uma vasta experiência sendo capista e a editora surgiu a partir de uma proposta de TCC com livros de contos de fadas e com o sucesso começou a investir no negócios. Mas, como não tinha dinheiro suficiente, optou pelo financiamento coletivo como alternativa para a produção dos livros. Ela relatou que em 2015 o crowdfunding não era uma alternativa muito popular no Brasil, mas ao escolher o conto de fadas, uma temática já conhecida, mas com contos originais, resultou numa curiosidade de um público mais focado nos adultos, além de utilizar de apelos sensacionalistas nas campanhas de divulgação. Ela ressalta que os diversos erros cometidos na primeira edição, como o não planejamento para abertura da editora e um nicho específico, ajudaram muito a entender o que o público queria. Atualmente, o nicho tem sido o maior foco da Wish, que para não competir diretamente com as grandes e conhecidas editoras, resgatando títulos antigos esquecidos e ainda não publicados no Brasil, além de ter como diferencial capa dura e edições de luxo. Ela percebeu que trabalhar com esse modelo é preciso ter algo inédito e a necessidade dos apoiadores fazerem parte da publicação, e para isso, reforça que é necessário acompanhar as tendências, trabalhar com diferentes frentes, ter disposição para aprender em cada nova campanha, ser calmo (ou medicado), ser corajoso (ou fingir bem), acreditar no mercado e ter muita vontade de criar. Além da forte necessidade de criação de artes e conteúdos para a promoção durante toda a companha, ou seja, um investimento pesado em marketing digital.

Marina também apontou os diferenciais ao se trabalhar com livros de nicho, como o risco de não ter um estoque parado e ter uma resposta quase que imediata do público. Ao mesmo tempo, ela também revela as dificuldades de se preparar um crowdfunding: encontrar um projeto ideal, trabalhar em diversas frentes, preparar o público previamente, lidar com todos os prestadores de serviços e manter a sanidade mental. Isso tudo ela percebeu durante o desenvolvimento e resultados da editora ao longo de sua existência. Achei interessante que a proposta da editora é trabalhar com campanhas com lucro zero, ou seja, o capital a mais que entra para a produção dos livros é convertido em uma quantidade maior de impressão de exemplares, e estes serão vendidos mais baratos depois, e assim, a editora recebe o lucro, isso depois de já ter pago todos os fornecedores e produtos.

Caso você tenha interesse no assunto,  Wish está com uma campanha no Catarse com um livro justamente falando sobre o assunto, dicas para campanhas, estratégias de marketing digital e orçamentos, nesse link!

Raphael Fernandes compartilhou sua experiência como sócio da Editora Draco. Enquanto cursava História na USP aproveitou para cursar outras disciplinas em jornalismo e editoração, já que era apaixonado por quadrinhos estava fora do mercado editorial. Seu início no mercado foi na extinta Revista MAD, quando passou a investir em cursos de formação na área de escrita criativa, escrevendo seus próprios textos e tornando-se não só editor, mas escritor e sócio da Draco. Com seu perfil mais criativo iniciou seu trabalho com publicações originais e em 2013 fez seu primeiro financiamento coletivo, que apesar do sucesso de arrecadação da época, atrasou 2 anos para ser finalizado e enviado aos apoiadores, duplicando os custos do projeto.

A Draco passou a investir em eventos de cultura de pop e percebeu a necessidade de distribuição do material em livrarias, até o início da crise em 2017 e grandes prejuízos para a editora, que não recebia os valores dos livros vendidos e não tinha capital para reimprimir seus livros. A solução foi recorrer ao Catarse e a partir do financiamento coletivo formar novamente seu catálogo, apesar do trauma da primeira experiência em 2013. Raphael explica que diferente dos demais projetos a Draco não se limita a um nicho específico e faz campanhas mensais na plataforma, revelando também a complexidade de vendas que precisa ser diferente em cada meio e canal (site, livrarias e catarse e feiras) por atender diferentes públicos, o que também reflete na complexidade no trabalho com influenciadores digitais ao promoverem os quadrinhos nacionais, por exemplo. Em relação à plataforma e ao modo de financiamento coletivo, ele diz que no Catarse não há uma regra fixa, e que as decisões variam de acordo o andamento de cada campanha.

Raphael estabelece as 4 estações de uma campanha, na primavera ele diz que é o florescer da ideia, ou seja, o tesão do projeto, momento inicial em que se está sozinho e depende da criatividade; no verão é o momento do flerte, ou seja, divulgação e comunicação ou como ele mesmo disse a “bomba de marketing” com todos os recursos disponíveis, mas também um momento de trocas e busca de ajuda e apoios; para ele o outono é o “vale da morte”, o momento que parece que nada acontece, ou onde tudo começa a dar errado e também o momento da ansiedade e o saber lidar com as tensões e cansaço; e por fim o inverno, momento este de preparar o material para envio e também onde tudo pode dar errado, desde as as tabelas de custos e outras questões que precisam ser bem definidas e alinhadas na primeira etapa, e por isso, ele chama a atenção para quem quiser investir nesse tipo de negócio precisa pensar em termos práticos no que vai oferecer aos apoiadores para evitar decepções, estresse e cumprir as datas.

 

4º Encontro – Outras vozes: a multiplicação de pautas e perfis no mercado editorial (Pólen Livros)

Lizandra Magon é uma das fundadoras da Pólen Livros, jornalista de formação sempre trabalhou com diferentes assuntos, mas em 2001 criou a editora que funciona mais como prestadora de serviços editoriais. Numa nova fase e sem o sócio, a partir de 2012 começaram as publicações próprias com um perfil mais feminista, mas que trabalha com diferentes gêneros, como a poesia, livros infantis e assuntos voltados às questões da mulher. Com isso, eram necessárias estratégias específicas para promoção e vendas desses livros que atendiam diferentes públicos, já que seu catálogo não conseguia enquadrar os títulos em “caixinhas” específicas e determinadas. Acompanhando as tendências do mercado, ela diz que a busca por autores foi principalmente em coletivos. Com isso, o primeiro grande marco da editora foi a vinda da autora Jarid Arraes com o livro Heroínas, uma reunião de cordéis com protagonistas negras brasileiras, dando visibilidade e representatividade às novas autoras, a partir do Selo Ferina, sob organização e curadoria da Jarid. Lizandra também aponta a coleção Feminismos Plurais (que eu inclusive fiz um post sobre, confiram neste link) sob a organização e curadoria da Djamila Ribeiro, e considera o ápice da representatividade no mercado editorial com autoria de pessoas negras sendo estampadas na capa. Sobre a crise a editora foi bem específica em dizer que é uma crise sobre uma determinada indústria, uma cadeia produtiva dentro de um ecossistema, ao mesmo tempo em que há cada vez mais produções vindas de diferentes lugares, inclusive os marginalizados. Ela também faz parte do grupo Coesão Independente formado e organizado pela Editora Clepsidra (que está mais detalhado na primeira parte desse curso), e aponta uma nova cultura no mercado em que há apoio e não concorrência entre as editoras independentes, como na solução de dúvidas do cotidiano editorial além da venda de livros em feiras.

Por motivos de saúde, a autora Jarid Arraes que era um dos nomes cotados para este encontro não compareceu, mas o João Varella (Lote 42) voltou ao curso e contribuiu muito nas discussões sobre os prêmios literários no Brasil que têm pouco impacto, além das experiências editoriais independentes em Bogotá, que fizeram do livro um objeto político de transformação e uma nova cultura implantada na Colômbia e como o Brasil ainda está muito atrasado nessas questões.

 

Apesar de ser muito cansativo participar desse curso foi uma experiência muito enriquecedora para mim e sou muito grata ao Centro de Pesquisa e Formação do Sesc por proporcionar um curso que tenha aberto um espaço para discussões do mercado de livros nesse momento. Parabenizo a Débora Brutuce e o Ricardo Rodrigues pela coordenação trazendo diferentes nomes e ações de impacto que propõem soluções ante à crise de um modelo tradicional de livros no Brasil. Estou ansiosa para os próximos cursos e encontros sobre o assunto. ❤ ❤ ❤

 

Até o próximo post!

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