FLIPOP 2019… Eu fui!

Oies Bookaholics!

Hoje é dia de falar sobre a 3ª edição da FLIPOP: o festival da literatura pop totalmente focado nos leitores organizado com a Editora Seguinte em parceria com outras editoras nacionais que publicam seus livros dedicados ao público jovem.

flipop 2019

O evento ocorre desde 2017 e depois de participar no ano passado (confiram: FLIPOP 2018… Eu fui!) resolvi aproveitar este evento incrível, que tem como diferencial o debate e reflexões a partir de mesas sobre assuntos específicos voltados às temáticas e produções de livros para o público jovem / young adult.

Alguns pontos nessa edição foram diferentes da edição anterior e de modo muito positivo. A primeira delas é que como o lugar escolhido foi o Centro Cultural São Paulo – CCSP, espaço este público, o valor das inscrições foi muito reduzido. No ano passado em um dia eu paguei R$ 50 (meia de estudante), nesse ano, a promocional de estudante para os 3 dias foi R$ 40, o que possibilitou a um número maior de participantes no evento.  Já que estamos falando de valores, infelizmente o preço dos livros não estava nada convidativo (pelo menos para o meu bolso e pela quantidade de livros que eu queria), muitos com o mesmo valor do preço de capa e só que a Editora Aleph trazia 30% de desconto. É triste porque às vezes você sai de uma mesa e quer ler o trabalho do autor, sair com o livro autografado, mas o preço nem sempre é favorável.

Outro fator essencial foi que várias outras grandes editoras se uniram à Editora Seguinte apoiando o evento e a ida de diversos autores, e foram mais de 60 convidados promovendo o evento, além de outras atrações como a cabine de fotos (com fotos instantâneas e personalizadas), uma caixa surpresa do Turista Literário em que se concorria a brindes (ganhei marcadores e algumas comidinhas), fotos no trono de GOT e um barco da Editora Harper Collins para divulgar o mais novo lançamento da autora Sarah Dessen.

Como eu disse eu comprei o ingresso promocional para os 3 dias do evento, mas por pegar uma semana muito pesada e exaustiva acabei indo só no sábado e domingo. E olha que não foi fácil, estava fazendo muito frio em São Paulo e minha vontade de sair de casa  estava quase chegando a zero, mas seria um desperdício não ir. Foi uma experiência maravilhosa: reencontrei amigos literários, profissionais da área, autores e mesas incríveis. ❤ ❤ Como duas mesas aconteciam de forma simultânea tive escolher aquela que mais me interessava e confesso que algumas escolhas foram bem difíceis. Já adianto também que não me interessei muito pelas mesas com as autoras internacionais porque ambas escrevem fantasia, e não tenho muito interesse em histórias desse gênero.

Um lançamento que foi anunciado durante o evento é o livro Todo mundo tem uma primeira vez, projeto este que envolve alguns autores, entre eles Vitor Martins, Bárbara Morais e Olívia Pilar.

Vou compartilhar aqui como foram as mesas em que participei e espero que vocês possam ter um gostinho do que foi a 3ª FLIPOP – Festival de Literatura Pop e já adianto: este é um evento que vale muito a pena! Para conhecer mais a fundo o trabalho dos autores e outros profissionais busque pelo perfil deles no Instagram, tem muito material legal 😉

 

  • Mesa: Escrever é profissão? – Uma conversa sobre a carreira de escritor, a trajetória e as dificuldades encontradas pelas autoras  (Aline Valek, Luisa Geisler e Socorro Acioli; Mediação: Jana Bianchi)

Não que escrever ficção é algo que eu almeje, mas acho muito interessante conhecer o processo de escrita dos autores. A mediação da Jana Bianchi fundamentou-se em 3 pontos principais, que permeavam também com a parte burocrática e não glamourosa da profissão, como ir ao correio.

  1. Vida de escritor – expectativa x realidade

Sobre o assunto Luisa Geisler disse que há muitas comparações, já que ela recebeu indicações e venceu duas vezes o prêmio Sesc de Literatura, além de ser publicada na Companhia das Letras, uma das maiores editoras do país, isso a partir dos 19 anos. Por isso, percebe que há um ansiedade do público em relação à idealização do sucesso e não do processo de escrita e um certo glamour em trabalhar com livros.  Já Socorro Acioli, a mais experiente da mesa, diz que esta é uma carreira que depende de amadurecimento, e que não dá para se deslumbrar com as conquistas rápidas . E ainda, a necessidade de olhar para o histórico e contexto brasileiro em relação à publicação de livros, o que exige paciência. Entre outros pontos, Aline Valek destaca que este é um trabalho de persistência, e conta suas experiências a partir da escrita na internet.

  1. O que fazer para se tornar escritor?

Socorro Acioli acredita na formação de escritor, para ela, assim como outros segmentos artísticos exigem treinamento e especialização o mesmo se aplica à escrita. Realizando diversas oficinas de escrita, ela diz que essa formação começa pelo próprio hábito da leitura, já que muitos que querem seguir nessa profissão não leem. Para Luisa Geisler seu processo depende muito do planejamento e reforça a importância do processo de escrita, justificando que há um leitor do outro lado e por isso sua preocupação em cada frase e parágrafo. Aline Valek também tem o mesmo pensamento que suas colegas e que não há um dom mágico do escritor. Para ela não é somente o talento, mas a internalização e reprodução do processo de escrita, que para alguns pode ser mais rápido e “fácil” internalizar isso.

  1. Sobre os trabalhos práticos e habilidades do escritor

Aline Valek diz que tenta ter noção de algumas funções e tarefas fora da escrita, como trabalhar com arte para a divulgação de seus trabalhos nas redes sociais e reforça muito a ideia de organização. Luisa Geisler também destaca a organização, principalmente no respeito aos prazos de entrega. Ela diz que qualquer pessoa pode ser escritor, e nesse sentido ressalta a persistência, o continuar fazendo, o que não depende de uma habilidade, mas de amar o processo. Socorro Acioli parte de um questionamento básico que todo escritor se deve fazer: o porquê você quer escrever, e a partir disso pensar no tema e qual a opinião e perspectiva do autor em relação a isso. Para ela, em pleno 2019 não há nenhuma história de fato totalmente original, mas a forma que cada um escreve é única, mesmo que seja um tema muito “batido”.

 

  • Mesa: Representação do jovem na mídia  – Como livros e filmes retratam os jovens, e a diferença entre escrever para os diferentes formatos (Convidados: Luly Trigo, Matheus Souza e Thalita Rebouças; Mediação: Keka Reis) 

Essa mesa tratou especificamente da relação entre livro x filme (ou série), principalmente quais as motivações para escrever e produzir histórias voltadas para o público jovem.

Thalita Rebouças diz que os jovens na verdade que a escolheram e diz isso ao perceber o afeto deles ao lerem seus livros. Diz que não gosta da caricatura do “aborrecente”, dizendo que eles são sensíveis e sinceros. Apesar de trabalhar com clichês, defende que uma história pode ser contada de maneiras diferentes, por isso percebe que há uma troca e diálogos, no tratamento como pessoas e seu trabalho parte de muita observação do cotidiano do jovem, principalmente nas redes sociais. Seus trabalhos visam mais à reflexão do que à educação e/ou determinação de regras.

Já Luly Trigo diz que viu uma necessidade de abordar política nos seus livros a partir de suas vivências e insatisfações nas escolas públicas em que desenvolveu trabalhos. Depois de ter seus livros adaptados para o cinema, a autora diz que há uma preocupação com uma possível decepção dos leitores com as modificações muitas vezes irremediáveis do livro para filme/série, principalmente por conta do orçamento. O que também reforça sua ideia de que escrever um livro dá mais liberdade do que escrever roteiros, ponto este que Thalita e Matheus também concordam. Thalita Rebouças complementa dizendo que viu necessidade de trabalhar com roteiro porque não saiu satisfeita com uma adaptação de um de seus livros, percebeu que sendo roteirista seria mais respeitada no processo de adaptação.

O diretor e roteirista Matheus Souza diz que essa geração tem como algo novo e específico, se comparado às gerações anteriores, o ser mais inteligente que os pais, principalmente por conta da internet que disponibiliza conteúdos de formas rápida e acessível, e por isso questionam aquilo que era uma verdade absoluta. Ele diz que se sente fascinado em escrever para esse público. Ele também aborda as diferenças de se escrever e atuar em diferentes formatos, e das implicações que cada meio exige, e incentivou as duas autoras a trabalharem com direção para que suas obras ficassem mais de acordo com que elas esperam as adaptações de suas obras.

 

Mesa: Conversas na mesa de jantar – As relações familiares nos livros e como o crescimento do jovem é influenciado por isso (Convidados: Breno Fernandes, Cidinha da Silva e Iris Figueiredo; Mediação: Lucas Rocha) 

Confesso que não fiz muitas anotações dessa mesa porque fiquei admirando o diálogo com dois autores que eu adoro: Lucas Rocha e Iris Figueiredo ❤ O livro dos dois Você tem a vida inteira e Céu sem estrelas, respectivamente, tratam muita das questões familiares. Também tive a oportunidade de conhecer o Breno Fernandes e a Cidinha da Silva, ambos nordestinos contando essas influências em suas obras. Mas, o bate-papo acabou concentrando-se mais na relação não entre um indivíduo e a sua família de sangue, mas essencialmente sobre as novas relações criadas quando essa família não entende e consegue suprir as necessidades. Diante desse ponto Iris Figueiredo falou sobre a importância dos amigos como uma família, tanto na sua vida pessoal como nas suas histórias, e para ela existem outras redes de apoio que não são alcançadas pelos laços sanguíneos. E até cita os temas como depressão, bulimia e outros transtornos mentais que são abordados em seus livros, e que nem sempre a família consegue entender o que está acontecendo, cabendo aos amigos serem uma rede de apoio. Diz também que já teve eventos em que as mães agradeceram por ela abordar tais temáticas nos livros, ajudando a compreender melhor seus filhos. Para Breno  Fernandes a comunidade estendida no estilo mais provinciano, como os mais velhos cuidarem das crianças que não são da sua família, como o hábito de pedir a benção, mostra que há formas de experimentar novos valores diferentes daqueles mantidos pela família sanguínea. Já Cidinha da Silva fala que suas personagens negras fogem do estereótipo de solidão e isolamento vivendo numa comunidade de afeto, seja com a própria família, seja com amigos.

 

  • Mesa: A volta das comédias românticas – Um dos gêneros mais famosos da ficção voltou, dessa vez com mais diversidade e representando todas as formas de amor. Os autores discutem suas histórias favoritas e quais eles ainda querem ver por aí. (Gravação de episódio para o podcast Wine About It. – Convidados: Clara Alves, Olívia Pilar e Vitor Martins; Mediador: Bruna Miranda e Mayra Sigwalt). 

Essa foi a mesa mais emocionante que participei do evento, teve muitas lágrima na mesa e até mesmo na plateia, isso porque a conversa acabou abordando na questão da sexualidade e a necessidade / dificuldade em ter que se assumir para a família. Mas antes de todo o chororô a conversa estava muito engraçada ao tratar das comédias românticas e seus clichês, e eu adoro esse gênero, seja em filmes ou livros. Dá para ouvir o bate-papo na íntegra quando estiver disponível no podcast Wine About It, que deve sair muito em breve 😉

Bruna Miranda iniciou a mesa falando sobre a nova onda das comédias romântica que traz mais representatividade tanto nos filmes como nos livros e afirma a necessidade de outras pessoas assumirem o protagonismo. Vitor Martins diz que a literatura hoje é como um laboratório para o meio cinematográfico que tem adaptado muitas coisas. Sobre os clichês, Olívia Pilar diz que tenta escrever cenas “bregas” em suas histórias fazendo uma releitura de clichês com pessoas fora do padrão, especialmente mulheres negras e lésbicas. Clara Alves disse que seu romance de estreia (Conectadas) é baseado nos casos do programa Catfish (adoro!). Bruna também ressalta que há uma necessidade hoje de ter histórias em que as minorias não morrem mais, e por isso, essa nova tendência nas comédias românticas, e a mesa cita entre outros filmes Com amor, Simon. Para Vitor Martins essa é uma forma de mostrar que há esperança, dessas novas histórias mostrarem que tudo vai acabar bem, ao mesmo tempo em que ficou se questionando em que momento deve-se parar de falar sobre tragédias, e para ele, é preciso escrever de modo certo e educar as pessoas. Ao serem questionados que história de comédia romântica reescreveriam Clara Alves disse que seria A nova Cinderela por também envolver uma rede social, Olívia Pilar respondeu que seria O casamento do meu melhor amigo e Vitor Martins toda a filmografia da Lidsay Lohan, mas especificamente sexta-feira muito louca, já que trata de relacionamentos familiares colocando no centro da questão um filho gay trocando de lugar com sua mãe para que ela pudesse compreender o que esse filho passa.

 

  • Mesa: O futuro é negro: o afrofuturismo no Brasil e no mundo – Como uma visão afrocentrada na literatura traz novas possibilidades para a negritude como protagonista de sua história e herdeira de suas tradições. (Convidados: Ale Santos e Fabio Kabral; Mediador: Petê Rissatti) 

Essa foi a última mesa do evento e foi muito interessante conhecer esse novo “segmento”, digamos assim. O mediador Petê Rissatti iniciou a mesa perguntando aos convidados o que era o afrofuturismo, Alê Santos ressaltou que é movimento estético, diversos meios artísticos e tecnologia, com o olhar do negro sobre as questões culturais e políticas. Para Fabio Kabral, que tem uma linha mais acadêmica, diz que o afrofuturismo trabalha com as questões que abordam “o outro” e cosmificação africana como centro da história, para ele é necessário 4 características essenciais para classificar algo nessa estética: protagonismo negro; autoria negra; culturas africana no como centro das histórias; e narrativas de ficção científica ou fantástica (que tratem não só sobre o futuro, mas também o passado revisto e o presente). Peê Rissatti questionou aos convidados sobre as produções nacionais e internacionais, e Alê Santos afirma que a partir dos Panteras Negras mostra que há história dos negros dá lucro, mesmo que o dinheiro nem sempre vai para os negros, e em vários segmentos diferente: cinema, música e literatura. Ao mesmo tempo que fala que o mundo nerd é racista e as coisas mudaram um pouco com o filme Pantera Negra, mas essa produção ainda não chegou no Brasil. Petê ainda taxou os fortes comentários racistas com a revelação de uma Ariel negra na versão live action de A pequena Sereia. Para Fabio Kabral fata muita perspectiva de produção de autoria negra no Brasil e convida os autores negros a escreverem suas obras nesse segmento de afrofuturismo. Além disso, a conversa girou muito em trono das religiões de raízes africanas, e muitas indicações de trabalhos que seguem essa linha.

 

Esse foi um resumo do que vi nessa 3ª edição da FLIPOP, a editora seguinte também disponibilizou um vídeo com os melhores momentos, destacando principalmente a opinião dos leitores sobre o evento:

 

Outras fotos:

 

 

 

 

https://www.instagram.com/p/B0vOUvVD7C-/

 

 

 

Parabenizo a Editora Seguinte pela iniciativa de criar um espaço de trocas e reflexões a partir de um evento tão necessário envolvendo diversos autores, editoras e serviços desse meio literário. Encerro este post dizendo que já estou ansiosa para a edição de 2020!

 

Até o próximo post!

 

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8 Comentários

  1. Tábata Uchoa · · Responder

    Nossa, que legal!!! Eu sou louca pra ir na Flipop mas como não moro em SP preciso me organizar direito, tirar férias do trabalho ou juntar algumas folgas… Adoro esse tipo de evento, só de ver seu post já me sinto como se eu tivesse estado lá! Adorei!!! Bjssss

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    1. Oies Tábata, ah entendo bem a sua situação, e o pior é que eu achei que eles demoraram para divulgar quando seria a edição desse ano (um pouquinho mais de um mês)… Torço muito para que vc tenha a oportunidade de participar, sei que vai gostar muito! Fico feliz do post conseguir dar uma perspectiva do que rolou 😉 Bjos

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  2. Morgana Carvalho · · Responder

    Nossa queria muito um evento desse na minha cidade. Deve ter sido uma experiência maravilhosa 💖

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    1. Oies Morgana! Realmente é uma pena que esse evento só fica centrado aqui, mas esperança de que ele seja disseminado em outras partes do Brasil 😉 Bjos

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  3. […] músicas e a cultura no geral. Isso também me faz relembrar uma mesa de discussão durante a FLIPOP 2019 sobre a volta das comédias românticas e a maneira como esse gênero se transformou, trazendo […]

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  4. […] crescimento das redes sociais e com elas foi possível entender o perfil dos leitores. Criadora da Flipop ela ressalta a importância de se estar em contato direto com os leitores e a ideia do evento foi a […]

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  5. […] Para aqueles que amam um romance clichê, esse livro não vai te decepcionar: é o tipo de história com algumas questões mal resolvidas, mas que a gente sabe como vai terminar, deixando aquele quentinho no coração. O que não significa que a trama deva ser desmerecida por isso, muito pelo contrário. Lembro uma vez de assistir uma mesa sobre processos de escrita e a Socorro Acioli dizer sobre a habilidade do escritor: […]

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