Resenha | A (r)evolução das mulheres, de Mindy McGinnis

Oies Bookaholics!

Essa foi a primeira leitura que finalizei na Maratona Literária de Inverno e preciso muito falar sobre esse livro! A (r)evolução das mulheres foi escrito pela autora norte-americana Mindy McGinnis e foi publicado no Brasil pela editora Plataforma 21.

A_REVOLUCAO_DAS_MULHERES_1496102327680743SK1496102327B

The female of the species – Tradução: Lavínia Fávero – 2017 – 344 Páginas – 4,5/5

Três anos se passaram desde o assassinato da irmã mais velha de Alex Craft. Mas, como é de costume, a culpa sempre recai sobre a vítima e o assassino segue sua vida em liberdade. Alex é uma menina forte e quer vingar sua irmã. Por isso, ela resolve atacar qualquer predador sexual que cruzar seu caminho e colocar a boca no mundo, usando a linguagem que conhece melhor: a linguagem da violência. Mas o que aconteceu na noite do assassinato chama a atenção de Jack Fisher, o cara invejado por todos: atleta perfeito, que desfila de braço dado com a garota mais cobiçada. Ele deseja conhecer Alex profundamente. E, numa cidade pequena, onde todo mundo se conhece, esse repentino interesse vai desencadear uma série de crimes bárbaros. 
Uma narrativa vibrante com cenas de grande impacto, A (r)evolução das mulheres é uma reflexão profunda sobre os abusos e estereótipos, que tiram a humanidade das mulheres. Mindy McGinnis nos mostra que as agressões perseguem a vida não só das vítimas, mas também daqueles que estão próximos a elas.

Eu estava aflita com receio? Sim, não por acaso ele estava há quase dois anos parado na minha estante. Mas assim que comecei essa leitura li quase 50 páginas de uma única vez, isso porque a narrativa da autora é muito envolvente e fluída, trazendo diversas metáforas e um ritmo que nos deixa imersos logo nas primeiras páginas, e olha que a temática tratada em A (r)evolução das mulheres é muito pesada. Quero destacar esse ponto logo de cara porque são poucos os livros que tenho essa percepção em relação a escrita de uma obra, mesmo que a trama e o final acabam não me agradando no final, mas a escrita sim.

Antes de me ater a mais detalhes sobre a minha experiência com essa leitura, preciso confessar que não sei se gostei tanto da tradução desse título que no desenvolvimento da trama faz muito sentido, ao mesmo tempo em que também não sei que outro título seria mais adequado que a tradução literal “A fêmea das espécies”, enfim.

Outra escolha muito acertada da escolha foi desenvolver essa trama sob três perspectivas diferentes, a de Alex (a irmã da garota que foi assassinada), a de Efepê (F.P – filha do pastor) e a de Jack (o atleta popular), isso porque se talvez ficássemos apenas sob a perspectiva de Alex não teríamos a riqueza de detalhes e visões sob uma personagem tão complexa. Além disso, acho que desenvolver uma narrativa em que se utiliza três pontos de vista trabalhando-os de forma que cada um tenha a sua voz e especificidade trouxe camadas e mais camadas, na verdade até poderia dizer que uma estrutura prismática da história. De fato também podemos notar um amadurecimento destes personagens e como suas percepções vão mudando conforme suas interações.

Acredito que se a narrativa fosse somente pelo ponto de vista da Alex o livro poderia ser mais perturbador do que já, porque o que a sinopse revela acaba por pintar apenas uma vertente desse prisma, A (r)evolução das mulheres é muito mais que isso, para mim é um livro que fala sobre luto e como as pessoas lidam com ele, principalmente a Alex, já que desde que sua irmã foi assassinada ela nunca mais foi a mesma, e a maneira que encontra para lidar com isso, ou melhor, não lidar, é a partir da vingança e violência contra aqueles homens que tem o comportamento abusivo contra as mulheres, impedindo que outras garotas se tornam vítimas e mais um número nas tristes estatísticas.

Não acho e não defendo que a atitude de Alex seja a mais saudável, mas a forma com que ela defende as garotas da sua escola, mesmo sem conhecê-las ou ter amizades com elas é algo louvável. E isso desde comentários abusivos inclusive entre as próprias garotas e a forma com que lidam umas com as outras, e isso até serve como um tapa na cara: o não julgar as decisões e ações de outras garotas, difamá-las pela quantidade de caras que saem, se transam ou não, pelas suas roupas etc. E uma das grandes lições que esse livro deixa é isso, o apoio que nós mulheres precisamos dar às outras que estão em situação de risco, deixando as diferenças de lado. A questão não é desenvolver uma amizade baseada em falsidade, mas agir de forma empática quando vê uma garota em perigo ou exposta, ou seja, sororidade.

Mas, voltando ao comportamento agressivo e vingativo de Alex, se explique não somente pelo assassinato de sua irmã Anna, mas também a uma série de fatores, como a separação dos pais durante a infância, e a negligência da mãe após a perda da filha mais velha. Com as poucas falas de Alex durante a narrativa, se comparado aos capítulos dos demais personagens, ela é que menos fala, descrevendo alguns pontos sem se aprofundar demais, na verdade a conhecemos por conta das demais perspectivas.

A ambientação da história numa cidade pequena também é essencial para o desenvolvimento da trama, visto o peso das escolhas de cada indivíduo nessa comunidade em que todos se conhecem desde a infância e desenvolvem laços desde então. Nesse sentido, uma das passagens que mais mexeu comigo foi quando um policial vai à escola fazer uma palestra sobre os riscos do álcool e a vulnerabilidade que deixa os jovens:

Esta é uma cidade pequena – continua. Noventa por cento dos estupros são cometidos por conhecidos, ou seja, vocês conhecem o seu agressor, meninas. E meninos, isso significa que vocês conhecem a garota que agrediram física, emocional e mentalmente. Aliás, um em cada seis meninos sofrerá agressão sexual também (…) Não podemos fazer nada a respeito disso, a menos que vocês deem queixa. Não podemos impedir que os amigos de vocês dirijam bêbados e se matem ou que nunca matem alguém, a menos que saibamos, antes que isso aconteça, que estão atrás do volante. Meninas, vocês não podem processar o cara que batizou a bebida de vocês, a menos que nos contem que isso aconteceu. E vocês não querem fazer isso, eu entendo. A cidade é pequena. A pessoa atrás do volante é seu amigo. A pessoa que tocou em você é o primo da sua melhor amiga, trabalha com o seu pai, é alguém em quem todo mundo confia, e ninguém vai acreditar em você. Mas eu vou acreditar em você. (pp.70-71)

Os personagens retratados carregam os estereótipos que estamos habituados: a esquisita, a popular, a puta, o atleta, etc… Mas quando temos a possibilidade de conhecermos as perspectivas desses tipos vemos que há mais camadas e camadas, não limitando-os apenas aos rótulos. Efepê como a filha do pastor da cidade e Jack como um atleta popular mostram muito bem suas demais camadas, principalmente quando começam a interagir com Alex. Suas histórias e relações com seus familiares é algo muito tocante e fugiram muito das minhas expectativas, Efepê, por exemplo, não é mantida sob a opressão religiosa dos pais, eles lhe dão liberdade suficiente para que ela toma as suas próprias decisões e se precisar, eles ajudam. O mesmo acontece com Jack e seus pais, com a diferença de sua família passar por algumas necessidades financeiras e ele não vê a hora de terminar o ensino médio e conseguir bolsa numa faculdade para que saía o quanto antes dessa cidade que não tem nada a lhe oferecer.

Várias cenas me tocaram durante a leitura, me deixando com os olhos marejados no final da história, que eu concordei muito com o fechamento da história, apesar de não ter um final fechado para os demais personagens, e alguns pontos na história, o que não me incomodou tanto, já que estava tão focada na história.

Por fim, essa é uma leitura que eu recomendo muito, apesar de abordar temas tão pesados, fica o alerta para: cenas de violência, abusos sexuais diversos, mas que trazem reflexões muito pertinentes e de forma tão responsável. Inclusive, acho que para o meu próprio bem emocional eu preciso dar uma pausa nos livros com essas temáticas.

 

Até o próximo post!

 

Redes sociais *Skoob/ *Goodreads/ *Instagram/ *Facebook/ * Filmow

 

 

 

 

 

4 Comentários

  1. Gostei do seu artigo, sempre com dicas e informações importantes. Seu site é um dos meus sites favoritos que estou sempre visitando..

    Parabéns!

    Meu Blog: Loterias

    Curtido por 1 pessoa

    1. Obrigada Samara! ❤

      Curtir

  2. […] Essa foi a minha primeira leitura concluída na MLI Segredos: Resenha | A (r)evolução das mulheres, de Mindy McGinnis […]

    Curtir

Deixe um comentário