Oies Bookaholics!
Mais um livro da autora Colleen Hoover finalizado e vou fazer resenha sobre É assim que acaba foi publicado no Brasil pela Galera Record no ano passado e tem sido considerado o melhor livro da autora. Esta resenha será diferente, visto as diversas camadas que a autora aborda em suas histórias vou comentar vários pontos da história, a fim de deixar as minhas impressões mais completas, ou seja, haverá muitos spoilers!
It ends with us – Tradução: Priscila Catão – 2018 – 368 Páginas – 4/5
Lily nem sempre teve uma vida fácil, mas isso nunca a impediu de trabalhar arduamente para conquistar a vida tão sonhada. Ela percorreu um longo caminho desde a infância, em uma cidadezinha no Maine: se formou em marketing, mudou para Boston e abriu a própria loja. Então, quando se sente atraída por um lindo neurocirurgião chamado Ryle Kincaid, tudo parece perfeito demais para ser verdade. Ryle é confiante, teimoso, talvez até um pouco arrogante. Ele também é sensível, brilhante e se sente atraído por Lily. Porém, sua grande aversão a relacionamentos é perturbadora. Além de estar sobrecarregada com as questões sobre seu novo relacionamento, Lily não consegue tirar Atlas Corrigan da cabeça — seu primeiro amor e a ligação com o passado que ela deixou para trás. Ele era seu protetor, alguém com quem tinha grande afinidade. Quando Atlas reaparece de repente, tudo que Lily construiu com Ryle fica em risco. Com um livro ousado e extremamente pessoal, Colleen Hoover conta uma história arrasadora, mas também inovadora, que não tem medo de discutir temas como abuso e violência doméstica. Uma narrativa inesquecível sobre um amor que custa caro demais.
Eu já li vários livros da Colleen Hoover e sou apaixonada pela sua escrita, ela tem algo espetacular que nos deixa viciados em suas histórias, ainda porque suas histórias acabam trazendo temáticas tão profundas e pesadas que nos joga no chão, de verdade. Desde o primeiro capítulo de É assim que acaba pode-se sentir a atmosfera tensa do livro: Lily está sentada no parapeito de um prédio refletindo sobre o funeral do pai e seu encontro ao acaso com Ryle, que está transtornado e revela que teve que atender um caso no hospital em que acidentalmente um irmão mata o outro com uma arma de fogo dos pais enquanto estavam em casa, fato este que se repercute mais adiante no livro.
Os diálogo trocados entre os personagens a partir de “verdades nuas e cruas” é um ponto que os une e marca seu relacionamento, a gente como leitor torce por Lily e Ryle e sabe que esse encontro reverberá pelo resto de suas vidas, já que com Colleen Hoover nada acontece por acaso, nenhum detalhe e até mesmo nenhuma frase.
Mas a temática principal tratada em É assim que acaba são os relacionamentos abusivos, e de duas maneiras: a primeira é a partir das memórias de Lily e do comportamento agressivo do seu pai para com sua mãe. Lily cresceu nesse lar problemático e violento, e mesmo que o pai voltasse sua ira por motivos dos mais banais a esposa, a partir do momento em que Lily passa a intervir nos conflitos, ela acaba sofrendo dessa mesma violência também. Fora que o comportamento abusivo do pai não se limita apenas à violência física, mas também à violência psicológica e emocional, privando a filha de ter amizades, já que sendo prefeito da cidade as pessoas não poderiam saber como ele era de fato em casa e ainda, se ela tivesse contato com outras famílias perceberia que havia algo de errado na sua.
Conforme Lily cresce, passa a questionar as justificativas da mãe para se manter nesse relacionamento tão tóxico e violento. E por muitas vezes sentimos esse julgamento da protagonista e o mesmo se passa com a gente no final das contas: sempre questionamos porque as vítimas de violência doméstica continuam com seus parceiros. Quantas vezes julgamos com frases do tipo “Se ela ainda está com ele é porque gosta de apanhar!”?
E a protagonista só passa a entender o que sua mãe passou quando passa pela mesma situação. Seu relacionamento com Ryle começa de forma não convencional, mas ele tem as suas características de “bom moço”: é bonito, rico, quase cirurgião. A forma com que Ryle é construído nos faz se apaixonar por ele, e até torcer por um tempo pelo relacionamento com Lily, afinal todo mundo tem problemas, não é mesmo? Mas para mim a partir do primeiro momento de agressão eu já não conseguia mais torcer pelo casal. Diferente da mãe, Lily tinha seu próprio negócio, não dependia financeiramente do marido e poderia sair desse relacionamento, mas por muito tempo optou por continuar. Ela estava apaixonada, e só assim começou a compreender as atitudes da mãe.
Ciclos existem porque é doloroso acabar com eles. Interromper um padrão familiar é algo que requer uma quantidade astronômica de sofrimento e de coragem. Às vezes, parece mais fácil simplesmente continuar nos mesmos círculos familiares em vez de enfrentar o medo de saltar e talvez não fazer uma boa aterrissagem. (p. 352)
Gostei que ao descrever esses dois relacionamentos a autora conseguiu colocar seus agressores como personagens “reais”. Com isso quero dizer que colocar um prefeito e um médico conseguiu tirar alguns padrões, ou seja, um agressor pode ser qualquer pessoa, independente do cargo que exerce. Essa experiência me trouxe muito mal-estar, e claro que este era o objetivo da autora: retratar uma história real, com uma cruel realidade que assombra muitas mulheres e sua precaução de não mais naturalizar esse tipo de comportamento. Eu conheço alguns casos de violência contra a mulher dentro da própria casa, e com dois casos extremamente próximos, e por isso duas coisas me incomodaram durante a leitura.
O primeiro fato é que em todas as cenas de violência e agressão Ryle estava bêbado, claro que o álcool e outros entorpecentes pioraram muito esses atos, mas fiquei com a impressão de que no caso de Ryle a bebida era a justificativa para as suas ações. Um segundo ponto é que se refere mais em relação aos demais livros que li da CoHo: a necessidade de construir seus personagens masculinos que sempre tem algum trauma do passado e isso também acaba servindo de justificativa para as suas ações. Quero dizer, é claro que há certa influência, mas acho que relacionar o acidente de Ryle quando era criança foi um pouco demais, ao mesmo tempo que serve com um artifício para que o leitor goste deste personagem. Esses dois detalhes me fizeram não amar o livro! #SorryNotSorry
Claro que muito da minha percepção teve influência direta com o livro Eu quero mais, de Tayana Alvez, que para mim conseguiu trabalhar melhor essa questão. Inclusive eu cheguei a conversar muito com a Tay comparando os dois livros, e diferente de mim, ela teve uma opinião diferente sobre Ryle e até torcia para que o casal ficasse junto. Aproveitando o espaço para falar de outros livros que tratam dessa temática: Amor Amargo, de Jennifer Brown, Hibisco roxo, de Chimamanda Ngozi Adichie e Dreamland, de Sarah Dessen, todos estes com resenhas disponíveis aqui no blog 😉
Outro ponto da história diz respeito ao passado de Lily, e achei muito interessante a forma criativa com que Colleen Hoover desenvolveu essa perspectiva. O leitor tem conhecimento do passado conforme a protagonista lê as cartas que escreveu durante a adolescência para Ellen DeGeneres, sim a comediante! Como eu mencionei anteriormente, Lily era impedida de ter amigos, e por isso seu maior hobby era assistir aos programas, na verdade todos os programas de Ellen DeGeneres, e com isso adotou o hábito de considerar Ellen sua amiga, escrevendo sobre o que acontecia com ela, como se fosse um diário. Não ficamos de coração partido só com as descrições sobre o pai, mas também sobre a situação de Atlas, um rapaz que mudou a vida de Lily no passado. E preciso dizer que essas cartas também dão um ritmo à leitura, porque queremos saber mais sobre Atlas e o que aconteceu.
Imagine todas as pessoas que você conhece ao longo de sua vida. São muitas. Elas surgem como ondas, entrando e saindo aos poucos, dependendo da maré. Algumas ondas são muito maiores e causam mais impacto que outras. Às vezes, as ondas trazem coisas lá do fundo do mar e as largam no litoral. Marcas nos grãos de areia que provam que as ondas estiveram lá, muito depois de a maré recuar. (p. 214)
Aos 16 anos Lily conhece Atlas que tinha 18, mas a situação de Atlas é tão complicada quanto a da protagonista. Ele foi expulso de casa e passa a ocupar a casa abandonada vizinha de Lily. Eles frequentam a mesma escola e Lily passa a notar o garoto, inclusive o ajudando com alimentos, roupas antigas do pai e até mesmo lhe fornecendo um teto durante as noites de inverno. E confesso, toda essa situação acabou comigo também. Claro que com essa proximidade os dois tornam-se amigos, Atlas conhecendo a realidade da família de Lily, que não é muito diferente da que ele vivia com sua mãe e o padastro. Atlas reconhece em Lily as mesmas marcas de crescer em um lar violento, as marcas físicas também e as cicatrizes das agressões cada vez mais frequente. Claro que essa proximidade e identificação acaba por resultar no primeiro amor de Lily e deixar marcas ainda mais profundas. Por isso que ano presente com a situação que está vivendo com Ryle e o reencontro com Atlas, Lily passa a questionar de fato seu relacionamento com Ryle. Suas feriadas estão à tona novamente, revivendo novamente as dores do relacionamento de seus pais.
No final do livro há uma nota da Colleen Hoover sobre o assunto e de onde lhe veio a “inspiração” para escrever esta história. Diferente das demais, que vieram a partir da suas experiência como assistente social, É assim que acaba é muito pessoal, a partir do que viu do relacionamento dos próprios pais.
Por fim, posso dizer que eu recomendo essa leitura, com certeza esse é um dos temas que ainda precisa ser muito debatido e de forma coerente e consciente. Mas também advirto: esse livro pode servir de gatilho para quem passa ou já passou por situações semelhantes.
Até o próximo post!
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Este é um dos livros da autora que tenho vontade de ler. Gostei muito da sua resenha da forma como emitiu sua opinião acerca dos personagens. Concordo quando vc fala sobre a criação do personagem Ryle. Na maioria dos casos de agressão, a bebida simplesmente traz à tona algo que já está na personalidade do indivíduo. Adorei conhecer um pouco mais dessa história.♥
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Oies Gio! Ah mulher, fico muito feliz por isso! ❤ E assim que possível lei É Assim que acaba 🙂 Bjos
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Eu só não desisti completamente da autora (após a minha primeira experiência não tão boa assim) justamente por causa desse livro, que todo mundo fala muito e parece bom. Eu vou confessar pra vc que não li toda a sua resenha, porque fiquei com medo dos spoilers kkkk, mas dei uma passada rápida por algumas partes, e acho que o livro aborda temas importantes, como o relacionamento abusivo, o que reforça meu desejo de lê-lo ainda. Espero que seja uma experiência melhor hahaha
Bjos
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Oies Isa! Conheço bem esse sentimento, e super entendo, faz parte! Acho que vc vai gostar muito desse livro, acho que dos que eu já li da autora esse é o mais maduro, digamos assim e acabou comigo em diversos momentos. Espero muito que vc goste, e vou querer saber a sua opinião depois 😉
Bjos
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Vish, provavelmente vai acabar comigo também!
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A probabilidade é grande!
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Que resenha maravilhosa!!! Eu concordo muito com você: essa coisa da Colleen Hoover justificar o comportamento agressivo dos personagens com um trauma do passado me irrita muito! Eu gostei basante de É Assim que Acaba, mas o comportamento do Ryle não pode ser justificado pelo que aconteceu entre ele e o irmão no passado. Amei sua resenha! Arrasou!!! Beijos e boas leituras ❤
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Oies Tábata! Obrigada ❤ Acho que depois que a gente lê alguns dos seus livros esse "detalhe" vai cansando, apesar das histórias serem maravilhosas e a gente ficar bem envolvido na trama, rs. Boas leituras para nós! ❤ Bjos
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[…] Como estava de ressaca literária por conta das inúmeras leituras da faculdade, queria ler um autor que eu gosto muito para voltar ao meu ritmo de leitura. Como eu tinha dois livros da Colleen Hoover coloquei para votação no Instagram e É assim que acaba foi o escolhido. Resenha | É assim que acaba, de Colleen Hoover […]
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