Oies Bookaholics!
Os quase completos foi uma das minhas aquisições na Bienal do Livro do ano passado e foi a minha leitura durante essa semana. O livro nacional do autor Felippe Barbosa foi o vencedor do I Prêmio Pólen de Literatura, sendo publicado pela Editora Arqueiro.
Arqueiro – 2018 – 384 Páginas – 4/5
Sinopse: O Quase Doutor é um renomado cardiologista que passa os dias em um hospital, mas no fundo é um artista frustrado. A Quase Viúva é uma professora que está de licença do trabalho para ficar com o noivo, em coma após um grave acidente. O Quase Repórter é um jornalista decepcionado com a profissão que sofre há mais de um ano pelo suicídio da esposa. A princípio, a única coisa que essas pessoas têm em comum é a sensação de incompletude e de desilusão com a vida. Até que, um dia, o Quase Doutor é persuadido por um velho desconhecido a embarcar com ele em um ônibus rumo a uma jornada para se reconciliar com seu passado. Logo a viagem se transforma em uma aventura extraordinária e, em meio a fenômenos como uma chuva de estrelas cadentes, ele precisa fazer escolhas que mudarão seu destino para sempre.
Enquanto isso, eventos misteriosos levam a Quase Viúva a suspeitar que alguém dentro do hospital quer matar seu noivo e uma pesquisa minuciosa do Quase Repórter revela que sua esposa pode ter sido assassinada. Quando os dois tentam descobrir a verdade sobre seus amados, tudo leva a crer que a resposta está dentro do ônibus do Quase Doutor. Reunidos num lugar que nunca imaginaram existir, os três serão forçados a enfrentar seus maiores medos e verão que, para se tornarem completos, precisarão encarar a batalha mais difícil de todas: aquela que travamos com nós mesmos.
Meu primeiro contato com esse livro foi pela indicação da Kabook Tv, que digitalmente me influenciou a adquirir a edição durante a Bienal do Livro, além da oportunidade de autografar com o autor. No ano passado a Tati do Tatianices Blog também resenhou o livro, mas eu só conseguir lê-lo nesse momento.
Apesar de ficar um tanto curiosa com a história, e com uma vontade cada vez maior de que conhecer o trabalho dos autores brasileiros contemporâneos, eu ficava com receio de ler Os quase completos, por saber que haveria elementos de fantasia no seu desenvolvimento. E para quem não sabe, esse é o gênero que menos tenho afinidade e que leio com empolgação, motivos estes que me afastam de histórias construídas com essas particularidades.
Nunca se limite ao “quase”. Não há nada mais depressivo do que beirar um sonho e jamais tentar alcançá-lo. A arte é o que te completa. O que te preenche. Isso quer dizer que, se você escolher ser um “quase artista”, você será sempre um “quase completo”. E sendo um “quase completo”, você será sempre um quase feliz. (p. 341)
De qualquer forma, Os quase completos me conquistou muito pelas “lições” que ele trouxe em suas páginas. O livro acaba por trabalhar fortemente uma mensagem sobre sonhos, realizações e principalmente escolhas, principalmente por ter personagens na faixa dos 30 e poucos anos, ao mesmo tempo que em passagens do passado justifiquem as escolhas que os levaram a situação em que estão vivendo no presente.
Ao concluir a leitura eu senti que a atmosfera tinha um efeito de auto-ajuda, mas o grande diferencial que o autor conseguiu trabalhar de forma muito satisfatória, para mim, é que ele não trata esses sonhos de forma a ser algo inteiramente perfeito. Não propaga uma ideia de que você se você não está satisfeito com o seu trabalho, relacionamentos e demais aspectos da vida, você pode simplesmente meter o f* e fazer aquilo que sempre quis sem se preocupar com as responsabilidades e principalmente com as condições financeiras.
Acontece que há uma grande diferença entre estar plenamente satisfeito com a sua vida e estar meramente conformado. (p. 140)
Além disso, achei muito interessante a maneira como as escolhas muitas vezes são pontuadas a partir do que os outros esperam de nós. Isso reflete desde o curso na faculdade e consequentemente a profissão, assim como o sonho do casamento, não é porque uma idealização aos olhos de muitos pode ser a mais “sensata e estruturada”, significa que é a escolha perfeita para você, ainda que a família e amigos e influenciem muito.
Como eu mencionei anteriormente eu não só a melhor leitora de fantasias, mas preciso ressaltar alguns pontos nesse sentido. Primeiro que a construção e desenvolvimento dos personagens, principalmente do Quase Doutor e da Quase Viúva, foram realizados de forma muito competente, muitos detalhes foram pensados e conseguimos sentir empatia por todos eles, entender seus anseios e angústias. E já que estamos falando dos personagens achei muito bem elaborada a relação que eles possuem sem deixar nenhuma ponta solta, apesar de a revelação começar a acontecer na metade do livro, o que para mim foi uma grande reviravolta na história, visto que eu não consegui prever os laços.
Os quase completos tem uma narrativa bem complexa, visto que temos o ponto de vista de 3 personagens, um deles traz diversos momentos do passado, dois são em primeira pessoa e um em terceira, além dos contextos de cada um deles, suas formações e anseios. Eu gostei mais da Verônica, ou a Quase Viúva, pois parecia que sua situação não era era a mais “óbvia” e por ser mulher gostei muito de como a ideologia do casamento e de se “arrumar um homem” enquanto ainda se é jovem foi trabalhada de forma mais crítica.
Em relação à ambientação o autor não tem preguiça de criar diferentes ambientes para compor a história, principalmente quando atravessamos os universos paralelos à realidade do Quase Doutor. Há diversas descrições detalhando as memórias e sonhos da infância, inclusive em relação à criação de um universo perfeito sob a perspectiva de uma criança, ora de um jovem.
Também foram muito bem detalhados o universo que o autor quis propor, e vamos lá, há toda uma explicação para o porquê do ônibus misterioso, das substâncias utilizadas, rituais místicos e dos tipos de elementos fantásticos que ajudam a compor a história. Ao mesmo tempo em que são trabalhadas diversas cenas de ação e luta, o combate entre o “bem e o mal”, o que de certa maneira não me agradou muito e acabou sendo os momentos mais “cansativos” da leitura para mim, mas que são pontos fundamentais do gênero. Aproveitando esse momento também para dizer sobre a diagramação do livro que deixou um pouco a desejar: o livro tem quase 400 páginas, mas as letras estão tão compactadas e as bordas menores que se seguisse um espaço maior, o livro passaria a ter mais de 500 páginas tranquilamente e talvez a gente quase não precisaria quebrar a lombada para conseguir ler o miolo.
Ora, nossa vida é feita de mudanças repentinas. de uma história fantasiosa, a um livro de descobertas racionais, terminando numa obra, de fato melancólica, que nos faz encarar o mundo como realmente é. (p. 187)
Por não ler muita fantasia eu achei toda a construção um tanto inovadora para mim, então ficaria impossível dizer se o livro se parece com algum outro livro ou história de filme, série etc. Talvez para quem tem mais familiaridade com o gênero pode ter mais referências ou conseguir pontuar melhor sobre o mundo criado e personagens criados.
Fiquei curiosa em como foi desenvolvida essa história e encontrei uma entrevista com o autor Felippe Barbosa explicando suas influências e aspirações para a história e o seu processo de produção. Chama atenção também a fala do autor sobre a publicação do livro diante da situação dos autores independentes nacionais e a falta de incentivo no mercado, elogiando muito ações de concursos como o do Prêmio Pólen em possibilitar a oportunidade de autores que não tem contato no mundo editorial para realizar o sonho de publicar seus livros.
Os quase completos trabalha com diversos elementos, é um livro que funcionou para mim muito mais pelas questões sobre sonhos, realizações e felicidades do que as partes que envolviam o universo paralelo.
A verdade é que nascemos com aspirações intrínsecas, e nossa vida nada mais é do que uma busca para preenchê-las. Uma busca por nossa própria identidade. (p. 126)
Até o próximo post.
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Eu estava com vontade de ler ele, mas confesso que estava com um pézinho atrás. Resenha ótima Cah!
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Oies Willy, eu tenho quase certeza de que vc vai adorar esse livro! 😉
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Amei a resenha!!! Fico feliz que tenha se surpreendido com o livro e com as reviravoltas dele. E que a gente continue trocando boas recomendações (:
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Também não tenho o costume de ler fantasia, mas às vezes precisamos sair um pouco da nossa zona de conforto, não é mesmo?! Adorei a sua resenha. ♥♥
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