Oies Bookaholics!
Continuando a falar sobre como foi o meu quarto ano no curso de Letras (confiram também: Diário da Faculdade | As disciplinas que cursei no 7º semestre) hoje vou me dedicar a detalhar alguns pontos do 8º semestre, o que eu considero um dos melhores que já cursei e vocês vão entender o porquê. 😉
A maioria dos professores que tive nesse semestre conseguiram criar um ambiente mais horizontal na sala de aula. Digo isso porque eles além de seguirem o programa propunham debates tanto em sala de aula, como nas próprias avaliações e ouviam as colocações dos alunos. Eu não senti que as argumentações levantadas eram consideradas erradas e corrigidas, muito pelo contrário, esses professores se mostraram abertos para aprender e compartilhar as informações e vivências que foram trazidas para discussão. E isso faz toda a diferença, apesar de ter sido um dos semestres mais intensos que já cursei.
- Leituras do Cânone 2
A disciplina visa oferecer ao aluno uma visão abrangente daquela que é considerada a grande tradição do romance em língua inglesa e discutir as questões envolvidas na formação desse cânone. Procura ainda acompanhar a história da formação e consolidação do gênero em seus momentos principais. O programa prevê a leitura de obras de romancistas canônicos ingleses da segunda metade do século XIX e do século XX. A disciplina dá continuidade ao programa de Leituras do Cânone 1, com igual objetivo, isto é, contextualizar para o futuro professor a história do romance e dar-lhe condições de compreender as questões de forma e de conteúdo que lhe permitam uma leitura informada do gênero na sua trajetória.
Bom, já começando com a parte que menos gostei, porque nada é perfeito. Eu optei cursar essa disciplina com uma docente que é especialista no assunto e suas aulas são bem ricas e densas. Entretanto depois de 3 semestres consecutivos com ela eu saí bem decepcionada, mais comigo do que com ela. Vocês sabem que eu costumo ser bem sincera nos meus relatos por aqui, mas foi difícil entender o método de avaliação dela, ou melhor, entender o que ela tanto cobrava. Eu amo literatura e nas disciplinas que eu cursei com ela foram as notas mais baixas que já tirei, isso porque até literatura russa e africana, que eu não conhecia absolutamente nada eu fui muito melhor.
Quando iniciei a primeira disciplina com ela em 2016 (Introdução ao Romance) alguns colegas trancaram a disciplina e preferiram cursar com outro professor por conta do temperamento e didática da docente. E acho que eu deveria ter feito o mesmo. Após três disciplinas eu senti que eu mal evolui nos estudos sobre literatura inglesa, pelo menos em questão de avaliação, e até mesmo os feedbacks que ela apresentava não faziam muito sentido para mim. Não querendo soar pedante, nem nada do tipo, mas era uma das disciplinas que eu mais me dedicava, por conta das dificuldades que ela me apontava, e cada entrega de trabalho era uma nova frustração. Ainda mais quando o último feedback ela apontou que eu não sabia estruturar um texto, e mesmo que eu tivesse dificuldade com a língua inglesa, esse é um problema que independe da língua. Espero nunca mais cursar disciplina alguma com ela.
Enfim, os livros abordados foram: Tess of the D’Urbervilles (Thomas Hardy), O Coração das trevas (Joseph Conrad), Retrato do artista quando jovem (James Joyce) e Mrs. Dalloway (Virginia Woolf). No primeiro trabalho eu abordei como tema a incapacidade de se contar uma história em O coração das trevas, e no segundo, sobre a representação da realidade como decodificação de Mrs. Dalloway, um dos meus livros preferidos da vida!
- Literatura e Cinema
O objetivo é estudar a relação entre literatura e cinema e o reconhecimento do cinema como forma artística. Para tanto, seu foco recai sobre a abordagem crítica da relação entre obra literária e discurso fílmico, procurando sensibilizar o aluno para a discussão dos aspectos de representação da realidade e de construção da narrativa. A disciplina tem como objetivo fornecer um instrumental teórico e analítico que possibilite ao futuro professor ler e interpretar um tipo de produção cultural próximo ao universo de interesse e da vivência de seus alunos.
Essa foi uma das disciplinas optativas da habilitação em Inglês e eu amei! Como esse é um curso bem livre, quando eu cursei o professor optou por trabalhar 2 temáticas que iam traçando um paralelo com diversos temas, sem focar em apenas um tema ou diretor específico. Na primeira parte foram trabalhados os filmes Match Point (Wood Allen, 2005), As faces de Toni Erdman (Maren Ade, 2016), eEu, Tonya (Craig Gillespie, 2017) para tentar definir o que ele chamava de “sujeito corporativo”. Para abordar as psicopatologias da vida cotidiana os filmes trabalhados foram: Mal do século (Todd Haynes, 1994), Short Cuts: Cenas da Vida (Robert Altman, 1993), Ela (Spike Jonze, 2013), Você vai conhecer o homem dos seus sonhos (Woody Allen, 2009), De olhos bem fechados (Stanley Kubrick, 1999), Projeto Flórida (Sean Baker, 2017) e Melancolia (Lars von Trier, 2010). Se eu gostei de todos o filmes, não! rs
Foi um grande desafio cursar essa disciplina porque eu tenho pouco conhecimento de linguagem fílmica, não que isso fosse exigido, mas também por conta da falta de bagagem e entender as várias comparações que os colegas traziam. Apesar disso eu fui aprendendo muito com as colaborações e a notar pontos que tinham ficado despercebidos pelo meu olhar. E o mais legal foi que o professor sentiu que as pessoas não participavam muito das discussões por ter que falar em inglês e quando permitiu que pudéssemos nos expressar da forma mais confortável, mais pessoas passaram a interagir e contribuir nos debates.
Para a avaliação deveríamos ler os textos selecionados para cada filme e entregar uma resenha relacionando ambos, no dia que seria feita a discussão do tal filme. Deveríamos entregar no mínimo 6 mini papers (de duas páginas), e por isso quase toda a semana eu estava entregando algum material. Apesar de ser bem puxado, ter o feedback rápido do professor me auxiliou muito para desenvolver as demais atividades. O trabalho final, que deveria ser mais extenso, poderia ser de algum filme já visto no programa e relacioná-lo com outros filmes e textos, ou escolher um novo filme e relacionar com os temas trabalhados no curso. Eu optei por analisar Réquiem para um sonho (Darren Aronofsky, 2000) e relacionei com quase todos os filmes que vimos, se quiserem posso disponibilizá-lo 😉 Eu simplesmente adorei o curso, me tirou da zona de conforto e me fez refletir sobre diversas questões! ❤
- Estudos Discursivos em Inglês
A disciplina apresenta uma introdução à dimensão discursiva da linguagem, com foco particular sobre o discurso enquanto fenômeno socialmente constituído. As habilidades trabalhadas fornecem subsídios para a compreensão da construção social da significação e das noções de texto, contexto e discurso. Com esse objetivo, estudam-se noções de texto, co-texto e contexto; linguagem como ação social; coerência e consistência textual; enunciado e enunciação, língua e subjetividade. Todas essas noções são discutidas, priorizando análises em língua inglesa. Entende-se que o futuro profissional de língua estrangeira deve estar preparado para trabalhar com o discurso enquanto fenômeno socialmente constituído, tendo como meta desenvolver o senso crítico dos aprendizes de língua inglesa.
- Tópicos de Língua e Cultura
Esta disciplina busca situar o estudo da língua inglesa em um contexto sócio-cultural e histórico mais amplo, onde as noções de língua e de cultura são vistas em termos de seus contextos variados de origem e comparados com os contextos sócio-culturais atuais em que ocorrem. A compreensão da diversidade dos contextos e das variações de origem dos conceitos de língua e de cultura é situada por sua vez em termos dos processos de criação de sentidos e de interpretação dos quais resulta. O futuro profissional é, assim, melhor preparado para discutir as relações língua estrangeira, cultura, língua materna e a constituição de identidades no contato-confronto com outras línguas e culturas, com destaque para a língua inglesa.
Essas duas disciplinas foram ministradas pelo mesmo professor e foi uma das melhores experiências que já tive na USP. Começando que este foi o primeiro professor que quis aprender o nome dos alunos, é sério! Nas primeiras semanas pediu para que nós fizéssemos uma espécie de crachá e deixasse sob a carteira para que ele fosse decorando os nossos nomes, isso significa decorar e relacionar nomes e características físicas a quase 200 alunos, considerando manhã e noite nas duas disciplinas. ❤ Os feedbacks do professor traziam diversos elogios e agradecimentos, por nós alunos compartilharmos com ele as nossas vivências e conhecimento.
Ele fazia questão de pedir que enviássemos os links de músicas, vídeos, textos, matérias, filmes e tudo o que citamos para que ele pudesse conhecer também, além de trazer outros diversos. Eu fiquei chocada porque nunca, em toda a minha vida, fui tratada dessa forma por qualquer professor. Mas sua linha de pensamento e ensino era voltada para o pós-estruturalismo que não focava somente na mero decorar de regras, mas de uma visão mais crítica sobre tudo, inclusive no ensino de línguas. Por isso sempre trazia dinâmicas, fazia com que trabalhássemos em grupos, assistimos aos filmes Babel (Alejandro G. Iñrritu, 2006) e Zeitgeist: The Movie (Peter Joseph, 2007) e até rolou festinha no último dia de aula. ❤ ❤
Como temas trabalhamos autores como Stuart Hall, Michael Foucault, Terry Eagleton, James Paul Gee, Norman Fairclough, e muitos outros (sério, muitos outros), rs
Além de trazer a parte teórica, ele trazia diversos exemplos do nosso cotidiano, ainda mais por esse docente insistir numa leitura e consequentemente em uma análise mais crítica, nos provocando a sair da zona de conforto e ter um olhar mais humano e empático sobre diversos fatores. Sim, foram aulas em que pudemos desenvolver muito nosso senso crítico (e porque não militante) sobre diversas questões, inclusive política, de classe, gênero e raça. Em meus trabalhos tratei muito desses temas, citando inclusive experiências pessoais quando necessário, principalmente no que dizia respeito ao feminismo negro.
Ainda falando sobre raça, tivemos uma palestra com a Profa. Andrea Cotrim sobre a representação dos negros nos filmes hollywoodianos, e (puta que pariu, sorry) foi maravilhoso. Além de traçar um histórico sobre o assunto e nos apresentar diversos filmes, ela nos apresentou um novo conceito que quero levar para a vida: A partilha do sensível, ideia desenvolvida pelo francês Jacques Rancière.
Alguns pontos que não foram tão negativos, mas, que deixaram as disciplinas mais tensas foi que algumas aulas eram extremamente corridas, além de ter que entregar quase toda aula alguma atividade. Por eu fazer as duas disciplinas com ele, uma aula seguida da outra, senti algumas vezes que as aulas se repetiam e parecia que eu estava vendo o mesmo assunto.
- Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa I / Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa II
I: Propiciar ao aluno a discussão de critérios e conceitos para o Comparatismo entre as Literaturas de Língua Portuguesa, através da aproximação entre suas produções artísticas, poéticas, ficcionais e em diversos suportes midiáticos. Pretende ainda problematizar conceitos tradicionais dos Estudos Literários e revelar, via Comparatismo Literário, as imbricações entre a Estética, a Ideologia e os demais elementos que as permeiam.
II: Propiciar ao aluno a compreensão do fenômeno da circulação de repertórios temáticos e formais entre a literatura brasileira e as literaturas africanas de língua portuguesa. Através de uma perspectiva comparativa e interdisciplinar, serão enfatizadas as marcas da cultura brasileira nas literaturas africanas e as marcas das culturas africanas na literatura brasileira
Essas duas disciplinas foram ministradas pela mesma docente e foram muito parecidas, por isso vou falara delas ao mesmo tempo. Enquanto a primeira traziam um pouco mais da teoria sobre os estudos comparados, a segunda já partia para as comparações entre as literaturas brasileiras e africanas. Mas, como o recorte da professora era trabalhar a literatura negra e africana, na primeira o texto principal eram poemas e no segundo contos.
Foi a primeira vez que tive contato com a literatura negra e africana, e entender principalmente que a África não é apenas um coisa, e por mais óbvio que pareça ser, a gente acaba tendo o péssimo hábito de classificar tudo junto, sem considerar as diferentes culturas e línguas presentes. Por isso, o foco foram nos 5 países africanos que tem como língua oficial o português: Angola, Cabo Verde, Moçambique, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe. Os autores que tive contato foram: Mário Antonio, Jorge Barbosa, Maia Ferreira, Mia Couto, Luandino Vieira, entre outros, que através de seus texto literários contavam a história de seu país. Entre os autores brasileiros, alguns trabalhados foram: Conceição Evaristo, Ferrez, Cuti, Marcelino Freire, que tratavam principalmente das experiências e condições dos negros nas periferias brasileiras. Além dos autores mais canônicos como João Guimarães Rosa, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, entre outros.
Por vezes as aulas acabavam se repetindo e foi intenso por ter que entregar 3 fichamentos de textos para cada matéria. As discussões também foram muito bem desenvolvidas e mediadas, tanto que numa aula eu e outro colega nos colocamos contra uma interpretação de um conto do Ferrez e outro do Cuti, e foi nem interessante, já que nós dois tínhamos mais “lugar de fala” para argumentar. Na avaliação final da disciplina II a pedido da professora acabei apresentando aos colegas uma análise comparativista entre os contos Reza de Mãe (Allan da Rosa) e Nossas mães (Jônatas Conceição) em que abordei a representação das mulheres nestes textos literários e na I fiz uma prova comparando alguns poemas, e já deixo registrado que não gosto de fazer prova de literatura, prefiro trabalhos porque a gente consegue revisar e desenvolver melhor.
Essas disciplinas me provocaram tanto, principalmente em relação às minhas raízes, à minha raça e minha cultura, minha identidade como mulher negra. Além de chamar a atenção de eu me voltar a estudar a estas literaturas e poder falar com mais autoridade sobre essas questões. E ser mais uma voz contra o racismo, ser mais uma voz no meio acadêmico tratando dessas questões, já que dificilmente encontramos professores negros na universidade, quem dirá mulher.
Enfim, foi um dos semestres que mais gostei de trabalhar e poder expressar as minhas opiniões e perspectivas sem ser julgada se estava certo ou errado ou que não correspondia a determinada regra ou qualquer coisa engessada do tipo.
Que meu último ano seja assim também… Oremos!
Até o próximo post!
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Suas palavras são tão cheias de sinceridade, e lembrando seus últimos posts sobre a faculdade, que imagino o quanto esse semestre foi importante para ti.
Que seu final de curso traga a certeza do dever cumprido e te abra muitas e muitas portas, porque vc as merece bem abertas.
Adoro esses posts.
Abraço.
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Oies Gabriel!
Poxa, sem palavras, muita gratidão pelo seu apoio aqui, como sempre! Obrigadaaaaaa
Cah
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Toda vez que leia esses seus posts, tenho vontade de voltar a estudar!
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Ah, fico feliz por isso 🙂 É estressante, nos tira o sono, dá vontade de desistir, eu não vejo a hora de terminar e já fico pensando o que estudar depois, rs. Vai com tudo!
Bjos
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Mesmo com os perrengues que você já relatou é visível pelos seus diários postados aqui o quanto você ama seu curso.
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Oies Lu! Olha e põe perrengue, estresse e esgotamento, rs Mas amar é uma palavra muito forte, rs. Acho que não sei se sou teimosa ou persistente em concluir as coisas que começo, sabe? rs
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Sei sim, acredito que é preciso muita coragem pra desisti de algo que sonhamos mais acaba não sendo o que esperamos. Quando eu desisti de jornalismo foi difícil mais a melhor decisão que tive, mas você já chegou tão longe merece alcançar mais esse feito.
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Ahhh! Obrigada pelo apoio ❤ ❤
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Ufa! Terminei de ler cansada. Tantos trabalhos, tantas leituras, muitos desafios…. 🙂 🙂 . Que você continue com essa empolgação, essa vontade de aprender sempre mais. Parabéns! E muito sucesso na profissão que escolheu. ♥♥
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Oies! Ahhh que linda, muito obrigada pelo apoio, de vdd! Eu fico esgotada com tanta coisa, mas tem valido muito a pena ❤
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[…] Diário da Faculdade | As disciplinas que cursei no 8º semestre […]
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https://cursosdigitais985035387.wordpress.com segue ai ❤
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Como sempre, venho deixar minha admiração! Sinto tantas coisas quando leio seus relatos! E fiquei bem curiosa para ler sua analise de Réquiem para um sonho (com certeza ficou fenomenal!)
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Vc sempre tão maravilhosa ❤ ❤ ❤
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[…] Ao defender a ideia de criticidade, seja ela da esquerda ou da direita, o autor aponta a necessidade de professores assumirem na sala de aula uma postura de posicionamento sobre o mundo, e dessa forma, incentivar seus alunos a adotarem também juízo de valor sobre tudo. Para Paulo Freire os saberes educacionais não podem se desvincular desse olhar crítico. Conforme me debruçava na leitura foi impossível não me recordar de Daniel Ferraz ❤, um dos melhores professores que tive no curso de Letras com suas práticas revolucionárias na sala de aula em uma universidade tão tradicional (confiram: Diário da Faculdade | As disciplinas que cursei no 8º semestre). […]
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