Resenha | O curioso caso de Benjamin Button, de F. Scott Fitzgerald

Oies Bookaholics!

Voltando às leituras de livros clássicos hoje quero falar e recomendar a novela O curioso caso de Benjamin Button, sim, obra do autor norte-americano F. Scott Fitzgerald que inspirou o filme homônimo do diretor David Fincher estrelado por Brad Pitt (e que eu ainda não assisti).

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The Curious Case of Benjamin Button – Tradução: Rodrigo Breuning – 2016 – 56 Páginas – ★★★★

Nascer, crescer, envelhecer e morrer são etapas de todo destino e só a ficção permite imaginar outros rumos. F. Scott Fitzgerald (1896-1940) fantasiou a inversão da seta do tempo em O curioso caso de Benjamin Button, a saga de um homem que nasce velho e morre bebê. O autor conquistou fama aos 23 anos com um romance sobre a ascensão de um jovem, como ele, impaciente para conquistar o mundo. Logo encontrou mais de um estímulo para assumir o papel de ícone de uma era, os anos 1920, louca, impulsiva e acelerada. Uma nota em seu diário diz: A felicidade depende do bom desempenho das funções naturais, exceto uma envelhecer. Sua morte, aos 44 anos, exemplifica o lema viva rápido, morra jovem, um modo até hoje eficaz de alcançar a imortalidade. O curioso caso de Benjamin Button, publicado em 1922, combina fantasia e realismo para anunciar a busca por rejuvenescimento que convertemos em obsessão. Não falta, porém, melancolia a esta fábula que inverte a cronologia para concluir que no fim das contas tanto faz ganhar ou perder. 

Tendo em mente que a história é considerada dentro dos aspectos da literatura fantástica e até mesmo uma fábula a minha leitura foi norteada para uma interpretação mais alegórica enquanto nós seres humanos vivemos em sociedade. E por isso não fiquei esperando e/ou procurando uma explicação para o nascimento de um indivíduo já na velhice e que ao decorrer dos anos rejuvenesce.

Metade da novela mostra a relação entre Benjamin e seu pai, desde o primeiro dia de vida. E me chocou com a não aceitação desse pai por ter um filho diferente, não só o filho é visto como um ultraje, como é descrito em diversos momentos, na sociedade, como pelo próprio pai. E isso me fez pensar nos casos de filhos que assumem (ou que os pais descobrem) a homossexualidade ou qualquer comportamento que foge à regra padronizada de relacionamentos, e como são muitas vezes tratados dentro da própria casa pelos seus familiares:

As pessoas parariam para falar com ele, e ele diria o quê? Teria de apresentar esse… esse septuagenário: “Este é o meu filho, nascido hoje de manhã”. E depois o velho enrolaria seu cobertor em volta do corpo e dos prosseguiriam naquela caminhada penosa, passando pelas lojas alvoroçadas, pelo mercado de escravos- durante um escuro momento, o Sr. Button desejou apaixonadamente que o seu filho fosse negro -, pelas casas luxuosas da área residencial, pelo lar dos idosos… (p.10)

Essa passagem reflete o aspecto que o autor pontua muito bem no início ao marcar o tempo e o espaço em que a história se passa. O ano de 1860 no sul dos Estados Unidos, período anterior ao fim da escravidão e na região com maior concentração de escravos. Então, notar que esse pai preferia ter seu filho como um escravo (=negro) seria mais adequado do que manchar a status da família rica e sua condição. E por isso, ele obriga o filho a seguir os costumes de um bebê, mesmo sem condições física, mental e psicológica para isso.

Essa relação entre pai e filho pode ser ainda o reflexo da relação de muitos pais que por serem voz de autoridade impõem ao filhos costumes que muitas vezes eles não se identificam. Talvez desde o “menino veste azul e menina veste rosa” e até mesmo em na escolha do curso universitário do filho. Tenho a percepção de que Fitzgerald acaba trabalhando muito nessa história sobre as expectativas e frustrações dos pais.

Até o próprio protagonista Benjamin passa sua vida tentando se enquadrar nos padrões, como cursar uma faculdade, casar, ter filho, servir na Guerra Hispano-Americana… Com isso a leitura também me fez refletir o quanto tentamos incansavelmente de diferentes maneiras para sermos aceitos, seja financeiramente e principalmente fisicamente.

Num mundo em que o status e o poder giram em torno de uma boa aparência parece que nunca estamos satisfeitos com os nossos corpos, principalmente nós mulheres, infelizmente, e me enquadro nessa situação também. Muitas acabam recorrendo a medidas extremas como procedimentos cirúrgicos de risco e sem controle, e transtornos alimentares pela obsessão por um peso ideal. Ou até mesmo um estilo e corte de cabelo, uma sobrancelha  definida e uma maquiagem perfeita. Principalmente com as tendências das redes sociais que acaba nos escravizando, o que me fez lembrar de um texto do HuffPost Brasil que entre outras coisas dizia o seguinte:

A longo prazo ficar preocupado em se encaixar, pode provocar emoções negativas ou angústia pois a sua identidade está amarrada tentando alcançar essas expectativas impostas por uma norma social criada pela mídia ou por uma celebridade que impregnamos com poder.

O curioso caso de Benjamin Button foi publicado em 1922 e quase cem anos depois continua sendo muito atual. E a forte temática da aparência é muito semelhante com O retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde, publicado em 1890.

Encontrando Benjamin na rua, os contemporâneos contemplavam, invejosos, a imagem de saúde e vitalidade que ele ostentava. (p. 34)

Eu adorei a leitura, mas esse é o tipo de história que eu gostaria de ler de forma mais aprofundada. Entendo que a intenção do autor era fazer em formato de novela, mas eu gostaria de ler detalhadamente sobre a mãe de Benjamin que mal é citada e até mesmo o casamento de Benjamin e a declínio dessa relação com a sua esposa. E até mesmo se os acontecimentos fossem mais trabalhados a experiência poderia ser ainda mais rica.

Super recomendo!

 

Até o próximo post!

 

armesan Cheese

 

 

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7 Comentários

  1. […] O curioso caso de Benjamin Button, de F. Scott Fitzgerald […]

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  2. […] Mais uma leitura que vem provar que ler livros clássicos não é difícil. Confiram: Resenha | O curioso caso de Benjamin Button, de F. Scott Fitzgerald 🙂 […]

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  3. Não li o livro, só vi o filme, pela sua resenha já vejo que tem algumas mudanças bem interessantes, fiquei bem interessada em ler agora.

    Curtido por 1 pessoa

    1. Oies Liv!
      Feliz em te ver por aqui 🙂 Então, vi muitos comentários de que filme e livro são completamente diferentes, exceto pela fantasia base. Quando ler, me diga o que achou, tá bom?

      Cah

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  4. Gostei! Ainda não li, mas irei.

    Curtido por 1 pessoa

    1. Oies! Provavelmente vc vai gostar tbm 😉

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  5. […] ler O curioso caso de Benjamin Button, esse foi o meu segundo contato com a obra de F. Scott Fitzgerald e estou ansiosa para ler os […]

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