Oies Bookaholics!
Em 2016 se iniciava uma nova trilogia da autora Babi Dewet, que mais uma vez tinha a música como fator essencial das histórias que se passam na Academia Margareth Vilela. O primeiro livro foi Sonata em punk rock que conta a história de Tim, e agora em Allegro em hip-hop conhecemos a bailarina Mila, ou seja, cada livro aborda uma protagonista diferente dentro deste mesmo ambiente: a Cidade da Música.
Editora Gutenberg – 2018 – 336 Páginas – 5/5 ❤
Sinopse: No segundo livro da série Cidade da Música, você vai conhecer Camila. Ela é neta de japoneses e filha de pais muito rigorosos que têm grandes planos para ela e para sua irmã. Desde pequena, aprendeu que precisava se esforçar mais, que precisava ser melhor, que não existia tempo a perder na adolescência e que sua inteligência e seu talento deveriam levá-la longe. Camila, então, trocou as festas das amigas por treinos de balé, e a vontade de viajar o mundo afora pela consagrada Academia Margereth Vilela. Sua vida inteira estava programada e organizada. Até que uma crise de ansiedade a fez perceber que tudo ainda podia mudar e, depois de conhecer Vitor, um garoto desengonçado e cheio de sardas que tocava violino, a vida mostrou à Camila que uma dose de hiphop poderia fazer os dias dela mais felizes.
Engraçado que quando vemos alguma bailarina no palco não temos ideia do quão difícil e quantos sacrifícios são necessários para manter uma postura e os movimentos em perfeição. Toda a leveza e graciosidade são “desmascaradas” em Allegro em hip-hop, quando lemos a história da Mila. Posso dizer logo de cara que esse livro entrou para a lista de meus livros favoritos da vida! A autora Babi Dewet conseguiu me envolver de forma tão profunda na história que foi impossível não sofrer junto com a protagonista Camila Takahashi em cada momento de crise durante a jornada em busca da perfeição e do papel principal na adaptação do ballet de repertório O lago dos cisnes.
Nunca tivera tantos problemas com insegurança antes. Sempre se achou o suficiente e capaz, embora, claro, tivesse seus dias ruins. Quem não tinha? Na escola, era sempre a garota mais magrela da turma, a “tábua”, a “girafa”, e sendo japonesa, os comentários não eram muito criativos. Como toda bailarina, tinha uma grande preocupação com o corpo, mas raramente havia chegado a pensar que não era bonita o bastante ou que precisava de algo mais para se sentir bem. Então aquele sentimento de insegurança era quase uma novidade. (p. 101)
Mila passa a se sentir cada vez mais insegura, treinando movimentos incessantemente, além das horas habituais de prática durante as aulas e os ensaios. A garota passava boa parte das madrugadas treinando, independente das dores, da exaustão, desenvolvendo também crises de ansiedade, em que pequenos acontecimentos do cotidiano, até mesmo os que não eram diretamente com ela, fazendo-a chorar e se sentir que o mundo iria sufocá-la. Nesses momentos eu sentia um aperto muito forte e queria poder abraçar a personagem e chorar junto, por ser algo que eu já passei algumas vezes, mas não de forma tão intensa como Mila.
Parou por alguns segundos, encostada no corrimão da escadaria que saía do prédio e respirou fundo. Suas pernas tremiam e ela sentia vontade de vomitar, a foma dava lugar ao enjoo. Não poderia ficar desse jeito. Contou sua respiração, como tinha aprendido, e tentava repetir para si mesma que não tinha por que se sentir daquele jeito! A sensação de que tudo estava errado, que ela não era suficiente e que queria simplesmente sumir porque algo ruim aconteceria tinha voltado – junto com a autossabotagem e a vontade de pensar em todos os problemas. (p. 206)
Quem passa por crises de ansiedade pode se sentir muito próximo à realidade de Mila e entender suas inseguranças e instabilidades, e pode ler com calma, Babi Dewet que também sofre de ansiedade soube tratar com muita responsabilidade e cuidado do assunto.
E mais do que isso, Mila precisa saber lidar com a imposição da mãe que mantém um discurso de que a filha precisa se esforçar cada vez mais, que ela precisa ser a melhor bailarina, independente do que precisa ser feito. Descendente de japoneses, a garota cresceu em rédeas curtas, sem direito a muitos momentos de lazer como uma adolescente comum, ou seja, nada de festinhas, namorados ou qualquer coisa que fosse contra “a moral e os bons costumes”. E ainda, ela tinha que ser a melhor, já que os pais que não tinham condições financeiras conseguiram mandar as duas filhas para a Academia Margereth Vilela, mesmo com bolsa, elas ainda tinham muitos custos, e por isso Mila colocava mais um peso em suas costas em não decepcionar o sacrifício dos seus pais.
Ao mesmo tempo que Mila ingressa no melhor academia de música do Brasil, que abriu aulas de dança, podendo desenvolver sua técnica com os melhores profissionais e ainda com a possibilidade de conseguir vagas em academias de elite do mundo, o seu mundo também se abriu para novas possibilidades, como a amizade com Clara (maravilhosa), mas principalmente quando conhece Vitor, um violinista que também não segue em nada os estereótipos de galã. O romance tem uma importância na vida de Mila, já que ela nunca tinha se envolvido com ninguém e não conseguia entender como as pessoas se deixavam levar pelos sentimentos, e pelas sensações que esses novos sentimentos causavam. Com uma narrativa em terceira pessoa que também trazia a perspectiva de Vitor, (uma sacada genial, diga-se de passagem) também temos um olhar das questões dele, e percebemos como o garoto é um fofo, me apaixonei pelo ruivo meio desastrado que fazia origamis e era fã de Drake ❤
Conseguindo equilibrar todas as questões desenvolvidas na história, o romance conseguiu trazer momentos de leveza em meio às crises de Mila e ao próprio ambiente problemático, devido aos vários tipos de preconceito. Babi Dewet durante as páginas dessa história abordou principalmente o preconceito que os asiáticos sofrem, juntamente com os estereótipos seguidos, como a facilidade para a matemática, a dificuldade em encontrar o tom de base para peles mais amareladas (e negras também) e as mulheres japonesas que eram tidas como “bonecas de porcelana”. Ainda assim, trazendo personagens diversos o racismo contra negros, e garotas lésbicas e/ou bissexuais também não ficaram de fora das críticas apontadas pela autora, como o machismo e as próprias regras do ballet clássico.
Não fazia ideia de como comentários e piadas eram recebidos de forma totalmente distinta dependendo da pessoa e do seu histórico. Era algo que deveria ter pensado, mas que não tinha ninguém para dividir e elaborar essas ideias. Havia ouvido comentários maldosos a vida inteira e sempre ignorava pensando que eram só piadas. Não eram. Ela não podia mais ficar calada, se tantas pessoas eram machucadas e estavam se unindo para esse tipo de coisa parar de acontecer. Ela tinha responsabilidade também. (p. 209)
Outros pontos que merecem ser destacados são: a trilha sonora, que como de costume cada capítulo tem uma música, além das demais citadas ❤ ; e também a forma como a autora foi construindo a história a partir dos elementos do ballet clássico e do hip-hop. Com a descrição das aulas, as sequências de passos, os alongamentos ou até mesmo nos momentos de treino de Mila ficou evidente o quanto a autora pesquisou sobre esse universo e soube trabalhar com as informações que tinha, e com o hip-hop o leitor tem acesso ao movimento com os demais personagens, ressaltando a importância da cultura afro.
Eu senti um amadurecimento na escrita da autora do primeiro livro da série para esse, percebi que as protagonistas são bem diferentes e não passam a imagem da autora, não que isso fosse um problema, mas mostra uma evolução em criar e desenvolver personagens diferentes do que o autor é, entenderam? rs Diante dos pontos colocados recomendo a leitura deste livro, que mostra uma jornada de autoconhecimento, aceitação, descobertas e superação. Uma jornada sobre determinar o que realmente é importante para você, independente da opinião alheia, afinal, por que você seria parte de um grupo de bailarinos se pode fazer o solo da sua vida?
Até o próximo post!
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