Cada um de nós tem o Céu e o Inferno dentro de si, Basil… (p. 145)
Oies Bookaholics!
A resenha de hoje destina-se ao livro O retrato de Dorian Gray, clássico da literatura inglesa, nesta linda edição publicação como o volume nº 6 da Coleção Folha Grandes Nomes da Literatura.
- The Picture of Dorian Gray
- Tradução de Jorio Dauster
- Coleções Folha
- 2016
- Clássicos
- 176 páginas
- 4/5
Sinopse: Escrito em 1890, este romance de Oscar Wilde talvez seja até mais atual agora do que em seu lançamento. O culto à aparência física e à eterna juventude deixou de ocupar apenas alguns estetas e aristocratas, como ocorria no fim do século XIX, para se transformar em fenômeno de massa. No esplendor da juventude, Dorian Gray posa para um quadro, e lamenta que, com o passar dos anos, perderá a beleza ali retratada. Ou será que não? Um pacto diabólico está em curso. Célebre em sua época pelo apuro das roupas, pelo brilho das frases e pelo escândalo em torno de sua homossexualidade, Oscar Wilde (1854-1900) reúne nesta fábula, simples e profunda, aspectos contrastantes de sua personalidade como literato e pensador. Contestando a rigidez vitoriana e a feiura da sociedade industrial, O retrato de Dorian Gray também põe em questão as ideias estetizantes e refinadas que seu autor sabia desenvolver como ninguém.
Eu precisava escolher um livro da literatura inglesa do século XIX para fazer um trabalho da faculdade, e a Mari (frequentemente citada nesse blog, e quem sabe role uma colaboração, rs) me indicou muito esta leitura. Confesso que estava bem apreensiva, porque não queria ficar muito tempo “presa” nessa leitura por conta dos trabalhos finais do semestre, mas segui a indicação e vou compartilhar com vocês como foi a minha experiência de leitura 😉
Eu iniciei a leitura no início do mês, mas só consegui finalizá-la nesta última semana e fiquei bem impressionada. No começo da leitura eu li mais da metade do livro de uma vez, mas tive que fazer uma pausa porque fiquei por quase duas semanas fazendo um trabalho sobre Mrs. Dalloway que sugou muito da minha energia e disposição. E quando fui voltar á obra de Oscar Wilde estava bem desanimada sem me importar muito com a história, mas por outro lado, contribuiu para um momento de surpresa na história que eu quase gritei com o fato ocorrido. Mas, vamos tratar de outros aspectos da obra antes disso!
Como vocês sabem eu gosto de reforçar quando algum livro clássico não tem toda aquela linguagem rebuscada que se tornou balela, ou impedimento para as pessoas acharem que o livro é difícil, rs. A tradução de Jorio Dauester é muito tranquila, sem muitas complicações, deixando a leitura mais fluída, tanto pelos capítulos curtos e a narrativa é em terceira pessoa, mas ainda assim o narrador consegue passar ao leitor o interior e os pensamentos do protagonista, mas não de maneira que dê toda a completude de sentido de todos os personagens. É um narrador que se limita a nos contar apenas o que envolve o protagonista em cena.
A temática do culto à beleza
Mas a beleza, a verdadeira beleza, acaba onde começa uma expressão intelectual. O intelecto é por si só um exagero, destruindo a harmonia de qualquer rosto. No momento em que alguém se senta para pensar, se torna só um nariz, ou só uma testa, ou algo horrível. (p. 13)
Uma das coisas essenciais, se não a essencial, é a temática do culto à beleza e da valorização que esta tem na sociedade em detrimento a todas as demais coisas. Desde o início esse ponto é deixado bem claro com a descrição do jovem Dorian Gray, não por acaso quando volta para Londres, ele é o destaque na sociedade burguesa que faz parte, chamando a atenção, sexualmente, tanto das mulheres como dos homens. O que faz o pintor Basil Hallward se encantar com a beleza de Dorian Gray, pedindo para que o jovem pose para seu quadro, com a intenção de eternizar esta beleza tão marcante. Nesse sentido, o livro também acaba partindo para discussões estéticas sobre a arte em detrimento da intelectualidade e dos princípios morais. E Dorian começa a ser corrompido quando passa a se relacionar com o Lord Henry Wotton (personagem que eu particularmente detestei), amigo de Basil, apesar de não concordar com a maneira de pensar do Lord:
Diz-se às vezes que a beleza é apenas superficial. Pode ser. Mas pelo menos não é tão superficial quanto o pensamento. Para mim, a beleza é a maravilha das maravilhas. Só as pessoas superficiais não julgam pelas aparências. O verdadeiro mistério do mundo reside no que é visível, não no que é invisível. (p. 32)
Fica bem claro que essa inversão de valores, entre o exterior e interior; beleza e intelecto, não é uma coisa que ficou limitada no final do século XIX, período em que a obra foi publicada, mas como algo que é presente ainda hoje. Se pararmos para refletir, essa realidade é muito próxima de nós, em vez do quadro, a eternização da imagem perfeita, da beleza se dá pela preocupação em expor fotos perfeitas nas mídias sociais.
Diferencio perfeitamente as pessoas. escolho os amigos por sua boa aparência, os conhecidos por seu caráter e os inimigos por seu intelecto. Um homem precisa saber escolher bem seus inimigos. Não tenho nenhum que seja idiota. Como são homens com algum poder intelectual, todos me apreciam. É muita vaidade minha dizer isso? Certamente é. (p. 19)
Supervalorização do prazer
Associado a beleza, o hedonismo (ou seja, a determinação do prazer como o bem supremo), movem Dorian Gray, com a tutela de Henry Wotton, ao fim da inocência e uma vida movida regada de momentos que buscam o êxtase do prazer, principalmente o sexual. O jovem começa a se envolver em diversos casos amorosos, corrompendo a sua alma com as consequências de seus atos, e muitas vezes consequências extremas.
Um novo Hedonismo! É isso que nosso século deseja. O senhor pode ser seu símbolo visível. Com sua personalidade, não há nada que não possa fazer. O mundo lhe pertencerá pelo tempo que quiser. No momento em que nos encontramos, vi que o senhor não tinha a menor consciência do que era, do que realmente pode vir a ser (…) Imaginei como seria trágico caso deixasse de aproveitar o pouco tempo que durará sua juventude, tão pouco tempo. (p. 33)
Parece que a ideia de aproveitar a juventude se assemelha muito à ideia de carpe diem, de viver o presente no máximo, antes que o tempo e a velhice lhe impedem de fazer tudo o que for possível para se alcançar o gozo (nesse caso, usando do duplo sentido mesmo) da vida.
Toque de literatura fantástica
Com uma obra que tem a picture, o retrato no seu título, se espera que algo relacionado a esse quadro, diferente do que acontece com Retrato do artista quando jovem, de James Joyce (confiram: Resenha | Retrato do Artista Quando Jovem, de James Joyce + Considerações sobre o filme). Oscar Wilde usa do objeto quadro como um elemento da literatura fantástica para compor sua obra, numa espécie de pacto de Dorian Gray com a imagem que Basil está reproduzindo no quadro, para preservar a beleza:
Aquele retrato seria para ele um espelho mágico. Como lhe havia revelado seu próprio corpo, haveria de revelar a alma. E, quando o inverno envolvesse o retrato, ele ainda permaneceria naquele momento em que a primavera estremece ao se ver na fronteira do verão. (p. 92)
Ou seja, o quadro revela mais do que a realidade já conhecida. O quadro se transforma, de forma sutil, num objeto fantástico que muda de acordo com as ações de Dorian Gray, ações estas que revelam a sua alma corrompida. Eu recomendo o vídeo da série Literatura Fundamental com o professor, da Unicamp, e crítico literário Fábio Durão, que explica melhor esse ponto, bem como a importância e relação da vida biográfica de Oscar Wilde com esta obra, principalmente no que diz respeito à questão da homossexualidade, que até hoje é tido como um tabu.
Considerações sobre o filme
Acho que estas foi uma das piores adaptações que eu já assisti na vida! Já esclareço que para mim é muito difícil, quase que impossível, pensar no filme sem relacioná-lo com o livro. A adaptação cinematográfica que me refiro é a de Oliver Parker (2009):
Eu fiquei muito decepcionada, principalmente porque a ideia central do diretor foi o de criar um filme de horror, usando de elementos típicos, como músicas de suspense, ambientação com tempestades e o terror com imagens de sangue e alguns sustos para marcar o telespectador, desconsiderando o efeito do fantástico, mais sutil que Oscar Wilde desenvolve na história de Dorian Gray. Até a metade, o filme segue de forma mais semelhante ao livro, com cenas bem diferentes, e do meio para o final tudo é inventado por Oliver Parker, e eu só ficava revirando os olhos, rs. Algumas coisas eu consegui entender o porquê de ter mudado, como a passagem do tempo e a volta do protagonista sem nenhuma mudança física causando choque às pessoas, mas o resto eu não curti. Em relação à atuação dos autores, especialmente Ben Barnes (Dorian Gray, aka o Princípe Caspian de As crônicas de Nárnia), Colin Firth (Lord Henry Wotton) e Ben Chaplin (Basil Hallward) eu achei de certo modo condizente, todos numa linearidade de representações, nada muito marcante ou ruim.
Por fim, é um livro que sim eu recomendo, por abordar temáticas que ainda são muito atuais, nos fazendo refletir sobre as coisas que mais valorizamos. Se você já leu a obra me diga nos comentários o que achou, vou adorar saber! 😉
Até o próximo post!
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Já faz alguns anos que ei O Retrato de Dorian Gray e foi uma história que me impressionou bastante na época. Parabéns pela resenha, achei seu raciocínio sobre a obra perfeito.♥♥♥
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Oies Gio! Ahh, a história é muito impressionante e confesso que quase gritei com o final de Basil, eu não esperava por aquilo, não tinha nenhum indício de que aquilo iria acontecer! Oscar Wilde conseguiu criar uma trama envolvente e surpreendente em vários pontos. Muito obrigada pelo carinho, como sempre! ❤ Bjs
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Oi Camila, tudo bem?
Adorei a resenha, super completa e com muitas reflexões bacanas.
Eu baixei esse livro no Kobo, mas até hoje não li. 😦 Shame on me!
Beijos,
Priih
Infinitas Vidas
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Oies Priih! 🙂 Tudo bem e você?!!!
Que maraa que vc gostou, confesso que levei um tempo a mais para escrever esta resenha pq fiquei dividindo a atenção com algum jogo da Copa hahaha, fico muito feliz que você tenha gostado ❤ Mulher, se eu te contar a quantidade de livros que tenho parado há uns dois anos na minha estante vc se surpreenderia, então, sem julgamentos rs. Mas eu recomendo a leitura, eu adorei! 🙂 Bjos da Cah!
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Hey Camila! Tudo bom?
Confesso que não conhecia o livro, muito menos o filme, mas me impressiona muito como obras feitas décadas atrás ainda se encaixam perfeitamente nos tempos modernos que vivemos, como se fossem feitos para o agora, me dá um arrepio quando penso mais profundamente sobre isso,
Dá uma passadinha lá no meu blog, tá rolando um sorteio mara de livros e mangás!
Um abraço,
miiistoquente
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Oies! Primeiramente seja muito bem vinda! 🙂 Realmente a nossa realidade nos surpreende mesmo, e pior é perceber que as coisas não mudaram muito do século XIX para os nossos dias atuais, na verdade é até chocante e triste 😦 Mas, quem sabe você goste da história! 😉 Já conferir seu blog e vou te seguir, obrigada pela indicação! Bjos da Cah! 🙂
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Ainda não tive a oportunidade de ler esse livro, mas a sua resenha me instigou a lê-lo o mais rápido possível. Adoreii! Bjsss, Agnes 😄
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Oies! Ahhh, fico muito feliz que vc tenha gostado 🙂 Depois que ler vou querer saber a sua opinião, viu? 😉 Mas espero muito que vc goste da história! Bjos da Cah! 🙂
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[…] Eu gostei muito do livro, mas o filme foi uma decepção, rs. Confiram: Resenha | O retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde + Considerações sobre o filme 😉 […]
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Olá, apreciei grandemente sua resenha, muito informativa! Curta a minha Página, Tome Nota Educação e Literatura. Bjos.
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Oies! Primeiramente seja muito bem vinda 🙂 Fico feliz que vc tenha gostado 🙂 Vou conferir seu espaço 🙂 Bjos da Cah!
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[…] houver amanhã (Jennifer L. Armentrout) 2. Kindred – Laços de sangue (Octavia E. Butler) 3. O retrato de Dorian Gray (Oscar Wilde) 4. Novamente você (Juliana […]
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[…] anos depois continua sendo muito atual. E a forte temática da aparência é muito semelhante com O retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde, publicado em […]
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[…] O retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde […]
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Qual a referencia desse livro?
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Eita, acho que não entendi a sua pergunta…
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