Oies Bookaholics!
Hoje é o Dia da Consciência Negra e queria falar sobre algo bem diferente dos que costumo falar por aqui, mas acho que tenho que falar sobre isso. Nesse ano eu tomei coragem e resolvi passar pelo processo da transição capilar, ou seja, processo em que se para de utilizar qualquer procedimento químico nos cabelos para assumir os cabelos naturais.
Mas por que eu precisava compartilhar essa experiência num blog que fala, em sua maioria, sobre literatura? Em setembro do ano passado eu fiz um post falando sobre estereótipos (confiram: Estereótipos? #PqNão) e dentre os vários exemplos que mencionei um dizia respeito aos cabelos crespos:
É cansativo ter que justificar toda vez porque não deixo meu cabelo estilo black ou natural. E caso estejam curiosos explico: eu teria que ficar pelo menos seis meses sem nenhuma química no meu cabelo, além de cortá-lo muito curto, e eu tenho o direito de tomar as próprias decisões do meu corpo, certo?
Mas acontece que eu revi os meus próprios conceitos e escolhi mudar!
A história do meu cabelo
Eu nasci com cabelo crespo e conforme fui crescendo não gostava do meu cabelo, e cresci ouvindo o quanto meu cabelo era feio, e dava muito trabalho de cuidar. Desde os meus 6 ou 7 anos minha mãe submeteu eu e minha irmã a todos os tipo de procedimentos químicos que existem. Ser negra e ter o cabelo crespo nunca fez parte do padrão de beleza estabelecido na sociedade, não havia nenhum tipo de representatividade em nenhum lugar, se até a Taís Araújo já apareceu em novelas com o cabelo extremamente liso e loiro, por exemplo, muito menos facilidade e produtos específicos para as crespas e cacheadas.
Durante a adolescência cheguei a fazer permanente afro, mas os custos de manutenção eram extremamente caro, e eu não trabalhava e nem queria cuidar dos meus cabelos. Passei a fazer relaxamento químico, de forma muito excessiva: até fazia em casa, todo mês porque não podia sentir uma “ondinha” no meu cabelo. Meu cabelo ficava sem volume e totalmente fraco, elástico, porque eu não me preocupava com hidratação e cuidados básicos.
Por volta de 2012 um amiga cabeleireira sugeriu que eu fizesse escova progressiva e depois de “recuperar” meus cabelos dos danos do relaxamento, passei a usar esse método. No primeiro mês depois da minha primeira progressiva, eu ainda sentia as tais ondinhas que tanto me incomodavam e fiz novamente relaxamento, deixando os meus cabelos extremamente lisos. Depois da minha cabeleireira quase me matar, ela precisou fazer um corte porque as pontas estavam horríveis. Fiquei fazendo progressiva até o ano passado, entre 2013 e 2014 descolori o cabelo pela primeira vez e fiz mechas loiras, no ano passado descolori de novo e fiz mechas roxas ❤
Mas eu não estava feliz! Eu não sabia mais como era o meu cabelo, a minha essência!
O próprio processo da progressiva era bem dolorido: eu já cheguei a ficar mais de seis horas, com dor, puxando cada mecha do meu cabelo para deixá-los lisos. E o meu cabelo só ficava bonito durante 1 mês e meio da progressiva, no máximo, porque eu não conseguia mantê-lo escovado, não conseguia “puxar a raiz” que começa a crescer tão rapidamente. No calor então era muito pior, porque mesmo que escovasse o cabelo fora, com o suor ele não durava, ficava com a raiz super alta e as pontas lisas e bem “ralinhas”. Então na maioria das vezes eu deixava os meus cabelos presos. A última vez que fiz escova progressiva foi no final de janeiro desse ano.
O início da transição capilar
No ano passado dois livros surgiram como uma espécie de faísca para a minha decisão de assumir os meus cabelos: Quando me descobri negra, por Bianca Santana e a personagem Sarah do livro Sonata em punk rock, por Babi Dewet (Série Cidade da Música I), que retratavam mulheres negras que passaram por situações muito semelhantes as que eu passava.
Em meados de abril eu comecei a me interessar pelo assunto da transição capilar, conversei com algumas colegas que já tinham passado, e comecei a estudar sobre o assunto. Parei no YouTube e me deparei com inúmeros vídeos de mulheres crespas e cacheadas falando sobre suas experiências, dando inúmeras dicas sobre cuidados, produtos e aceitação. Eu fiz uma playlist, que atualmente conta com mais de 120 vídeos sobre o assunto (vocês podem conferir aqui: Playlist Cabelos). Então eu finalmente tomei a minha decisão, iniciei a transição e o cronograma capilar, cortando um pouco do cabelo.
Cronograma Capilar: Hidratação, Nutrição e Reconstrução dos Fios
Não adiantava eu passar pelo processo da transição, esperar meu cabelo crescer para assumir de vez os meus cabelos naturais, eu precisava cuidar, e muito. Com as três etapas do cronograma eu conseguia cuidar dos meus cabelos, precisei me adaptar, mudar meus hábitos e querer ver a mudança. Fiquei chocada com a quantidade de produtos e marcas específicas para as crespas e cacheadas, os vídeos me ajudaram muito a buscar alternativas, com até mesmo receitas caseiras. Tive que aprender a cuidar dos cabelos mesmo com o tempo bem limitado, já que trabalho e estudo, e até mesmo cuidados específicos de como lavar, desembaraçar, usar os cremes, etc. Eu sou adepta do cronograma até hoje e vale lembrar que ele vale para todos os tipos de cabelos, sejam crespos, cacheados e lisos. Todo tipo de cabelo necessita de cuidados, e aí cada um adapta para o que for melhor para sua rotina e tipo de cabelo. No primeiro mês eu já percebia a diferença e me animei ainda mais!
Motivação e Foco
Desde o início da transição eu estipulei para mim mesma que cortaria o cabelo no mês de setembro, porque eu queria ir ao show do CPM 22 (banda que eu amo) com os meus cabelos naturais, poderia curtir o show de rock numa boa, sem me preocupar com o suor, chuva. Investi em vários produtos e procedimentos naturais, até hoje eu assisto vídeos sobre, participo de dois grupos no Facebook (Rotina Saudável e Cacheadas em Transição) com várias pessoas que também querem manter os cabelos saudáveis.
https://www.instagram.com/p/BbFdnpdnnCM/?hl=pt-br&taken-by=_milamelo
Desde o começo utilizei produtos da marca Salon Line, porque além de gostar muito da qualidade, o preço é muito acessível. Eu gosto de testar vários produtos e muitos deles se dão super bem comigo, e a cada mês compro alguma coisa nova, sai muito mais em conta que uma progressiva.
O dia do corte
Setembro, mês da minha meta foi chegando e eu ainda estava bem insegura sobre cortar o cabelo. Tem mulheres que cortam as pontas lisas com 1 mês de transição, outras com 5 meses, 10 meses e outras com mais de 1 ano. Algumas preferem colocar tranças e cabelo, mas eu não queria. Meu cabelo foi crescendo muito rápido, e a técnica de texturização (deixar o cabelo com apenas uma textura) não adiantou no meu cabelo. Passei a ver vários vídeos de mulheres fazendo o Big Chop (BC = grande corte), chorava junto com elas (vocês precisam assistir esse vídeo) e passei a ficar cada vez mais motivada, e não foi uma decisão fácil, porque a partir do momento que eu cortasse, não seria mais possível prender os cabelos, e se eu não gostasse? E se não me sentisse bem?
Minha mãe super me apoiou e no dia 8 de setembro eu cortei toda a parte com química dos meus cabelos. Foi uma sensação de liberdade que eu jamais tinha sentido antes, e confesso que estou escrevendo esse post com lágrimas no olhos ao lembrar desse momento. Um filme passa pela minha cabeça lembrando de tudo que eu já vi, de tudo que já fiz para me sentir aceita na sociedade.
Coragem e determinação!
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Autoaceitação e autoestima
Os cachos, crespos, tomaram o lugar de direito. E, ela por fim, percebeu que as doses de autoestima estavam na raiz e não mais em um pote industrializado. (Grasiele Maia)
https://www.instagram.com/p/BY1hu9onQ1y/?hl=pt-br&taken-by=_milamelo
Além de todo cuidado com os fios, muitos vídeos falam sobre autoestima e autoaceitação. Falavam dos julgamentos que várias mulheres passaram por assumir os cabelos naturais, porque o processo é muito complicado. Há recomendação de não fazer mais o uso de chapinha e escova, porque o calor excessivo acaba agredindo muito os fios, e o cabelo fica muito feio, já que ele acaba ficando com duas texturas diferentes. Eu preferi não expor a minha decisão e conversava apenas com os familiares e amigos mais próximos, além de receber o apoio de amigos da faculdade e do estágio que passaram pelo mesmo processo. Eu recebi muito apoio!
https://www.instagram.com/p/BZYt-2EHiZ1/?hl=pt-br&taken-by=_milamelo
Durante a transição eu passei a me preocupar comigo e uma situação foi o estalo que eu precisava para que eu pudesse cuidar mais de mim. Eu estava num momento muito crítico na faculdade, estava muito vulnerável e decidi mudar, foi um processo que primeiro precisou acontecer internamente para refletir no externo. Comecei a tomar hábitos um pouco mais saudáveis na alimentação (beber água e diminuir o consumo de refrigerante) e até voltei a me maquiar, eu amo maquiagem! ❤
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Confesso que durante a transição eu não gostava de tirar fotos, mas depois, algo em mim despertou e acabei tirando várias, rs
https://www.instagram.com/p/BZbYTNlnrBk/?hl=pt-br&taken-by=_milamelo
Depois que cortei o cabelo recebi vários elogios e comentários sobre a minha nova eu, rs. Não diziam apenas que eu era bonita, mas que o meu semblante mudou, que algo nasceu dentro de mim, que eu era uma nova pessoa. O mais curioso foi notar que esses comentários não vieram só de pessoas que eu tinha afinidade, mas de pessoas que tinha convívio, seja no trabalho ou na faculdade, pessoas que eu mal conversava. E isso faz muita diferença!
https://www.instagram.com/p/Ba37zbKh06c/?hl=pt-br&taken-by=_milamelo
Ainda estou aprendendo a cuidar e lidar com os meus cabelos todos os dias. Mas, mais do que isso, estou aprendendo a ser eu e aceitar quem eu sou: negra! Isso não significa que todas precisam ter um cabelo black, cada uma precisa ser do jeito que se sinta bem, seja de cabelo alisado ou crespo. Não podem existir imposições, cada um tem que viver da maneira que se sinta bem, porque quem sabe se daqui a uns anos eu queira voltar a ter meus cabelos alisados é uma escolha que só compete a cada um, ok?
https://www.instagram.com/p/BZtU2bTHIPC/?hl=pt-br&taken-by=_milamelo
E olha quem estava com os cabelos naturais no dia 30 de Setembro no show do CPM 22 pulando, cantando e chorando mesmo com muita chuva?
https://www.instagram.com/p/BZtoc-rn5DD/?hl=pt-br&taken-by=_milamelo
Ao mesmo tempo
Que tudo se encaixa em seu lugar
Vou continuar
Com os meus planos
De ter algo pra poder viver
Sem ter que sofrerMas insistem em jogar
Nosso orgulho em algum lugar
Que não tem mais como
Levar adiante o sonho de viverQuero viver em paz
Sonho de viver em paz
https://www.instagram.com/p/BZtmvDYn5Kw/?hl=pt-br&taken-by=_milamelo
Hoje eu me sinto muito realizada e feliz, não tenho vergonha dos meus cabelos crespos e nem da cor da minha pele! Confesso que ainda me preocupo se vou conseguir emprego com o meu cabelo crespo, com os olhares de pessoas mais conservadoras ao ver meu black que cresce a cada dia, achando meu cabelo feio ou mal cuidado por ele ser mais seco e com muito volume. Essa foi uma das melhores decisões que eu já tomei na minha vida!
https://www.instagram.com/p/BbFJsvSH2qa/?hl=pt-br&taken-by=_milamelo
Foi preciso repensar, decidir e aceitar!
https://www.instagram.com/p/BbAv7KkHeV4/?hl=pt-br&taken-by=_milamelo
Até o próximo post!
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Filha você está MARAVILHOSA! Eu também alisava o cabelo desde da minha infância (parei tem uns 3 anos) e a vida muda, né? só a economia de dinheiro… é enorme. Hoje em dia praticamente eu faço tudo em casa (cortar, hidratar…) e é mais rápido do que cuidar dos cabelos lisos. Beijo enorme e parabéns pela coragem (sim, coragem, só nós sabemos que nunca nos ensinaram a gostar dos nossos fios crespos, então,”vencer” essa questão psicológica – pelo menos para mim – foi o mais difícil).
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Oies Juju! ❤ Você entende bem o sentimento! Mulher, bota pressão psicológica nisso, eu mesma não me aceitava do jeito que sou, é um passo a cada dia. Eu ainda não tive coragem de cortar, mas hidrato e cuido sozinha, só não faço tanto economia pq todo mês compro algum produto novo hahaha. Somos vencedoras! Muita força para nós! ❤ Bjos da Cah
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É isso aí! Um dia de cada vez e logo teremos cabelos crespos, fortes, saudáveis e empoderadores!
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Arrasou!
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❤ ❤ ❤
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Corajosa! Linda! Cacheada! A cada dia que passa, sinto minha admiração por você, aumentando. ❤ Está maravilhosa Cáh!
Beijinhos 😘
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Geo, sua linda! Obrigada pelo carinho e apoio! ❤ ❤ Bjos
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Gostei demais do resultado final. E viva a liberdade!
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Obrigada! ❤ ❤
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Cah! Só consigo pensar em uma palavra quando vejo suas fotos atuais: M-A-R-A-V-I-L-H-O-S-A! Há tempos que venho acompanhando sua transição capilar e é muito perceptível como mudou e não digo apenas por fora, mas por dentro, está com uma brilho, uma alegria estampada no rosto diferente e fico muito feliz de saber que está bem e que a mudança te transformou de forma positiva, porque realmente o que importa é sentir bem! Saiba que estarei sempre aqui te apoiando, se precisar é só chamar! Beijos ❤
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Aiii, me passou um filme agora quando estava bem no início da transição e estávamos conversando sobre isso na FLIPOÇOS ❤ ❤ Você desde aquele instante me deu muita força para que eu conseguisse, sou muito grata ❤ O que mais tenho escutado depois do meu bc foi isso, de ser mais que uma mudança externa sabe? rs Nem acredito que passou tão rápido e que me faria tão bem, mesmo com um pouco de insegurança ao longo do tempo. Muito obrigada pela força, de verdade! ❤ ❤ ❤ Bjos
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[…] Também fiz um post bem mais pessoal falando sobre autoaceitação e como foi processo ao assumir meu cabelo crespo: Cabelo Crespo: Sobre autoaceitação e a minha transição capilar 🙂 […]
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[…] que passou pela transição capilar no ano passado e desde então tem assumido os cabelos naturais (Cabelo Crespo: Sobre autoaceitação e a minha transição capilar), esse filme foi maravilhoso! Acho que a autora conseguiu retratar muito bem os fatores que […]
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[…] pelas decisões que tomei nos últimos anos (falo um pouco mais sobre esse assunto nesse post: Cabelo Crespo: Sobre autoaceitação e a minha transição capilar). Por isso, esse livro deve causar mais mais impacto e provocar mais empatia com as mulheres que […]
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