Oies Bookaholics!
Nesse semestre, durante as aulas de Literatura Brasileira, estou estudando Machado de Assis e Lima Barreto, especificamente os contos de Machado, entre eles O alienista (conto / novela). Como vocês sabem (ou não), eu gosto de compartilhar as leituras de livros clássicos para desmistificar a ideia de que essas obras são inacessíveis.
- Título original: O alienista
- Autor: Machado de Assis
- Editora: Penguin & Companhia das Letras
- País: Brasil
- Lançamento: 2014
- Gênero: Clássicos
- 104 Páginas
- Classificação: 4/5
Sinopse: Clássico da literatura brasileira, este texto de Machado de Assis continua sendo, cento e trinta anos depois de sua publicação original, uma das mais devastadoras observações sobre a insanidade a que pode chegar a ciência. Tão palpitante quanto de leitura prazerosa, O alienista é uma dessas joias da ficção da literatura mundial. Médico, Simão Bacamarte passa a se interessar pela psiquiatria, iniciando um estudo sobre a loucura em Itaguaí, onde funda a Casa Verde – um típico hospício oitocentista -, arregimentando cobaias humanas para seus experimentos. O que se segue é uma história surpreendente e atual em seu debate sobre desvios e normalidade, loucura e razão. Ensaio sobre a loucura e a lucidez, sátira política e comédia de costumes, esta edição de Machado de Assis conta com uma esclarecedora nota introdutória do crítico britânico John Gledson, um dos grandes intérpretes do autor brasileiro.
Acho que o primeiro ponto a ter em mente quando se pretende fazer a leitura de um livro clássico é pensar a edição da obra, mesmo com as aulas sobre o livro, eu optei por essa edição da Penguin & Companhia das Letras que possuí diversas notas explicativas facilitando muito a compreensão, além de alguns textos de apoio.
Outra dica é buscar no dicionário o significado de termos que não são conhecidos, eu por exemplo, tinha uma ideia completamente equivocada sobre o que era um alienista, que é um médico especialista em doenças mentais, porque com a ideia do significado dessa figura, a temática e o ambiente já são uma pequena introdução do que a obra abordará.
Eu fiz a leituras em poucas horas, mesmo porque a história é curta, mas confesso que numa primeira perspectiva eu esperava mais, já que há toda uma hegemonia sobre os livros clássicos e seus autores. Mas quando fui reler alguns pontos e com as aulas confesso que minha experiência mudou um pouco, rs.
Foi preciso ter em mente o contexto histórico e social do período, porque um alienista tinha um papel de tanto destaque no final do século XIX no Brasil? Era um período em que as teorias científicas da Europa influenciavam os modos nacionais, e que a ciência, assim, era superior á religião, e que as pessoas, por motivos que hoje não fazem sentido, eram mantidas presas em hospícios. Há referências à cultura árabe, passadas despercebidas por mim, já que foi um dos marcos iniciais do desenvolvimento do tema da loucura da medicina que migraram para o continente europeu a partir da Espanha.
Em O alienista, Machado de Assis critica essas novas teorias científicas que tentavam controlar a população (as massas), ao mesmo tempo que levanta uma discussão sobre o poder e a política, não permanecendo apenas nas ideias de loucura e razão. É até possível uma leitura alegórica da política, já que o próprio autor assemelha / mimetiza o conto aos processos adotados durante a Revolução Francesa, com os capítulos Antigo Regime, O terror, A rebelião, A restauração, etc.
Simão Bacamarte, médico e membro da nobreza tem por objetivo de vida:
O principal nesta minha obra da Casa Verde é estudar profundamente a loucura, os seus diversos graus, classificar-lhe os casos, descobrir enfim a causa do fenômeno e o remédio universal. Este é o mistério do meu coração. Creio que com isto presto um bom serviço à humanidade. (Pág. 24)
Com essa justificativa ele tem carta branca da sociedade para tomar todas as decisões que julga necessária para atingir seu objetivo idealista e utópico. Suas ações por muitas vezes se mostram contraditórias e não humanas, já que até a escolha de sua esposa se faz por motivos que ele considera científicos.
– Trata-se de coisa mais alta, trata-se de uma experiência científica. Digo experiência, porque não me atrevo a assegurar desde já a minha ideia; nem a ciência é outra coisa, Sr. Soares, senão uma investigação constante. Trata-se, pois de uma experiência, mas uma experiência que vai mudar a face da terra. A loucura, objeto dos meus estudos, era até agora uma ilha perdida no oceano da razão; começo a suspeitar que é um continente. (Pág. 34)
Um dos problemas é que as pessoas confinadas no hospício, na Casa Verde, estavam sob cárcere privado, e muitas vezes em situações desumanas de sobrevivência, que não são abordadas nessa obra, mas eram as características do momento que estou lendo em Diário do hospício, de Lima Barreto e que em em breve farei resenha 😉
Estando os loucos divididos por classes, segundo a perfeição moral que em cada um deles excedia às outras, Simão Bacamarte cuidou em atacar de frente a qualidade predominante. (Pág. 82)
Um dos fatores, se não o principal, para determinação a condição de uma pessoa era a moral, não por acaso, há registros de que as mulheres presas eram reprimidas por histeria e/ou sua sexualidade fora dos padrões conservadores instituídos na sociedade pelo modelo patriarcal.
Porém, todas as investidas de Simão Bacamarte não foram suficientes, depois de revoltas, apoio e poder do governo, o protagonista não conseguiu atingir o seu objetivo, e fica a reflexão de se ter um único propósito na vida, investir todos os seus recursos, fazer sacrifícios e no fim não alcançá-lo:
Mas o ilustre médico, com os olhos acesos da convicção científica, trancou os ouvidos à saudade da mulher, e brandamente a repeliu. Fechada a porta da Casa Verde, entregou-se ao estudo e à cura de si mesmo. Dizem os cronistas que ele morreu dali a dezessete meses, no mesmo estado em que entrou, sem ter podido alcançar nada. (Pág. 87)
Até o próximo post!
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Essa história é ótima. Já li também a versão em HQ. Você conhece?
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Oies Gio! Menina até esqueci de mencionar a adaptação, mas não, não li. Infelizmente a edição não está mais disponível 😦 Bjos P.S Eu amo o trabalho dos gêmeos e já li a adaptação deles de “Dois irmãos” do Milton Hatoum ❤
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Cah, eu adorei a sua resenha. 😄 São nesses momentos que eu vejo o quanto é importante a contextualização da obra com a respectiva época. O livro saí da superficialidade e assim conseguimos interpretar as suas várias camadas. Já tem um tempo que sempre tento buscar informações sobre o contexto histórico e tbm de teóricos para fazer uma leitura mais crítica. Bjsss
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Oies! Fico muito contente por vc ter gostado 🙂 Tem casos que a contextualização é essencial, principalmente na leitura de clássicos, e acho que vale partir para uma pesquisa sobre o período e como vc bem disse buscar críticos teóricos com ensaios e/ou análises. Confesso que nem sempre faço isso, mas as aulas me ajudam muito, e por isso acho importante compartilhar aqui no blog 😉 Bjos
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[…] Leitura obrigatória para a faculdade, confiram: Resenha | O alienista, por Machado de Assis! […]
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[…] Cabe lembrar que naquele tempo não havia muitos critérios para diagnosticar a loucura e podemos recorrer e comparar os textos de Lima Barreto com O Alienista, de Machado de Assis, que também tem como ponto de vista o tema da loucura e se ambienta em um hospício, e o próprio ato de Lima Barreto ao tentar categorizar seus colegas de Hospício. >> confiram: Resenha | O alienista, por Machado de Assis. […]
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[…] doença por choques elétricos. Mais uma vez somos lançados ao ponto de vista da loucura, como em O alienista, por Machado de Assis e Diário do Hospício + O Cemitério dos Vivos, por Lima Barreto, obras que retratam o clima nos […]
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[…] era um panorama do século XIX e início do século XX, o semestre de Machado de Assis (confiram Resenha | O alienista, por Machado de Assis Como cada professor faz o seu recorte, o meu optou por trabalhar apenas os contos machadianos, […]
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